A Resistência de Júlian Fuks


“É preciso aprender a resistir. Nem ir, nem ficar, aprender a resistir.” 
Esta frase marcante inicia o capítulo 26 do livro A Resistência do escritor Júlian Fuks.


Publicado em 2015, A Resistência carrega características da literatura contemporânea. O livro é um resgate de memórias de uma família argentina exilada no Brasil no período da ditadura argentina.
O narrador-personagem relata as lembranças dos pais e especialmente do irmão adotivo no período delicado de exílio. Estas reminiscências são quase sempre postas em dúvida pelo próprio narrador: se ocorreram de fato ou são apenas inventadas, pois partem de uma única perspectiva – a do narrador.
As reflexões sobre infância, a maternidade, a escrita e a própria relação familiar estão muito presentes ao longo dos capítulos que não possuem títulos e não possuem uma sequência narrativa de fato.

A obra é frequentemente rotulada como auto ficção (um termo utilizado para obras autobiográficas), uma vez que a narrativa pode ser da vida do escritor Júlian, que teve sua família exilada da Argentina e tem um irmão adotivo. Porém, este “rótulo” é rejeitado por Fuks, quando perguntado por uma aluna de letras na roda de conversa sobre sua obra no InstitutoSingularidades: “poderia considerar como pós-ficção, algo como pós-memória, ou seja, as memórias de algo que não se viveu” - o ato de fabular e que pode sofrer fusão com outras linguagens. Acrescenta ainda que o livro não tem caráter planfletário político, apesar de muitas passagens destas memórias familiares remetam aos leitores grande identificação pessoal e social.

Este universo de intimidade e confissão criada ao longo da narrativa aproxima o leitor a ponto de confundir a realidade com a ficção, em que o escritor afirma que sim, a obra causa esta ambiguidade, que é outro aspecto encontrado nos estudos literários da atualidade.
A Resistência possui peculiaridades da literatura contemporânea como hibridismo, a multiplicidade de gêneros, a narrativa histórico-ficcional, social e urbana e a multiplicidade de interpretações. Foi contemplada com os prêmios Jabuti 2016 e José Saramago 2017 sendo um dos marcos da literatura brasileira no século XXI.

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