O Conto da Aia, Margaret Atwood

Eu me interessei por esse livro depois de ter assistido uma das
melhores séries que já vi na vida e que foi inspirada no livro de mesmo nome.
Depois de terminar de ver a série, uma aluna minha recomendou a leitura do
livro e eu logo comprei para ver se havia alguma coisa de diferente em relação
a série, e também queria saber se havia coisas mais detalhadas pela visão da
autora sobre um mundo totalmente machista em que as mulheres eram doutrinadas e
totalmente submissas aos homens. (Sempre que eu pensava sobre isso, eu me
indagava se realmente era uma distopia, porque em algumas partes do livro
parecia que ele retratava os anos 1940 ou 1950 ou 2000... em resumo, não
parecia uma distopia, pois já estava muito próximo da realidade).
Enfim, eu comecei a ler e, desde o começo até o penúltimo
capítulo, todo o livro foi escrito em primeira pessoa, então a gente acompanha
as percepções de uma mulher que se chama June, mas que seu nome foi modificado
para Offred devido a certas circunstâncias que quem ler vai entender e prefiro
não dizer sobre isso no momento (rs). Mas voltando... a Offred era uma mulher
que perdeu todos os seus direitos de cidadã e suas liberdades porque em certo
momento nos EUA, se suspendeu a Constituição e os homens acabaram criando uma
nova sociedade com novas regras em que as mulheres deveriam se submeter a
certas funções em prol da sobrevivência da espécie humana. O que aconteceu para
tudo isso eclodir de uma só vez foi que aconteceram vazões radiativas e aumento
da contaminação de doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis, que
contribuíram para que a taxa de natalidade diminuísse e, portanto, poucas
mulheres e homens eram férteis e podiam gerar filhos. Na tentativa de converter
essa calamidade social, algumas mulheres foram separadas, como se fossem em
classes. Havia as aias, à qual classe pertence a protagonista do livro; as
Marthas que eram mulheres mai subalternas e que não eram férteis então
desempenham funções menores na sociedade; as mulheres que instruíam e educavam
religiosamente e moralmente as aias no que se refere a como se portarem na rua
ou em casa, ou até como serem submissas nas mais diversas situações; e havia as
mulheres dos Comandantes que eram aquelas que podiam constituir família com
outros homens importantes da sociedade, mesmo não podendo gerar filhos. Há
outras classes de mulheres etc citadas no livro, mas a grosso modo são essas
mulheres que desempenham o rosto de Gilead, essa sociedade imaginária nos EUA
criada pela autora.
Conforme a leitura avança, vai-se percebendo que todas as
pessoas envolvidas nesse lugar são afetadas negativamente pelas regras
estabelecidas, o que leva a vários deslizes ou infrações gravíssimas, inclusive
por parte das pessoas importantes de Gilead, para terem algum tempo de
liberdade ou distração. Essa é uma das partes que mais me chamou atenção no
livro e também me fez pensar sobre várias coisas do mundo: se aquele sistema
não era vantajoso para ninguém, apenas para perpetuar a espécie, por que ele
continuava? Simplesmente para gerar filhos? Que tanto medo é esse do fim?
Não vou tentar responder isso aqui porque levaria muito tempo,
mas eu achei uma indagação bem interessante a ser pensada tanto para gente
quanto para o livro. Ahh!!! Sobre a escrita em primeira pessoa, eu achei ela
positiva em certos pontos, mas também negativa em outros, por exemplo: como
tudo é narrado pela Offred, podemos ter uma total percepção de desistência por
parte da personagem que parece desiludida com melhoras futuras e que muitas
vezes nem pensa em sair desse lugar, talvez por uma falta de esperança mesmo na
humanidade, só que ela consegue encontrar refúgio muitas vezes em memórias que
trazem uma certa saudade, por vezes de sua mãe, uma feminista na sua época, por
outras vezes de seu ex-marido e filha e de certos lugares da cidade que antes eram
tão atraentes para ela, porém se tornaram vazios e sem graça. Por outro lado, a
narrativa em primeira pessoa não permite que você tenha uma avaliação ampla e
da percepção de outros personagens sobre os acontecimentos do cotidiano ou até
mesmo de suas opiniões sobre determinados fatos; tudo fica na visão da Offred,
mas a todo momento eu me pegava querendo saber o que as pessoas estavam
pensando quando faziam certas “coisas” por convenção. Tem uma cena no livro e
na série em que as aias são submetidas a transarem com os Comandantes, mas isso
acontece na presença das esposas deles, sendo que a aia era “fodid*” pelos
Comandantes e suas mulheres participavam segurando as mãos delas. Era assim: as
aias deitavam na cama, o Comandante vinha e transava com elas, acima da cabeça da
aia, a esposa sentava e lhe dava a mão como se ela também estivesse
participando do ato sexual. Nesse momento, a aia passa suas impressões, até
sobre o que pensa da esposa do Comandante, mas sempre fica aquela curiosidade
de saber qual a percepção dos outros que não as dela. E mais ainda.... uma das
cenas finais do livro e que é a cena que termina o primeiro episódio da série
com um apedrejamento foi uma das coisas mais fortes que eu já vi há tempos.
Fiquei impressionado e pensativo nessas partes.
Pra terminar a resenha e não ficar muito longa, eu vi um vídeo
em que a autora comenta sobre as ideias do livro e o que eu achei bem
interessante foi que ela nasceu perto da Segunda Guerra Mundial e que tinha em
mente imaginar como seria uma ditadura ou um governo autoritário na América,
então em 1985 ela decidiu escrever esse livro pensando sobre a sociedade
americana nesses modelos totalitários. Além disso, o livro no final deixa
algumas dúvidas a serem respondidas que eu não achei totalmente necessárias...
Não vou dar spoiler, mas me pareceu
legal a autora propor que a gente tenha que imaginar algumas coisas, mas para
mim ficou uma lacuna que deveria ser preenchida, mas isso é só uma questão de
gosto pessoal que não compromete em nada o livro.
É um livro bom, mas mais do que isso, eu achei um livro
necessário ainda mais no panorama atual em que muitos movimentos conservadores,
machistas e retrógrados estão ganhando voz e cada vez mais participando do
cenário político de muitos países no mundo. Como o livro narra uma parte da
vida de uma aia em meio desse turbilhão de revoluções acontecendo e que ela
relata os funcionamentos e problemas desse sistema, seria uma boa recomendação
para qualquer pessoa ler e entender que não estamos tão longe dessas
atrocidades.
Compre na Amazon!
Compre na Amazon!
Comentários
Postar um comentário
Bem vindo(a) ao Dose Literária.
Agradecemos seu comentário e tentaremos responde-lo assim que possível ;)