Dose de Poesia: Canção de Outono


Oficialmente estamos no outono aqui no hemisfério sul. Os dias mais escuros, as folhas secas e o vento trazem inspiração para muitos artistas e escritores. Separei dois poemas de mesmo título, porém de autores diferentes para celebrarmos a chegada do outono e apreciarmos a arte da poesia. 

Canção de Outono - Cecília Meireles

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão…

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
– a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão…


Canção de Outono - Paul Verlaine
(traduzido por Guilherme de Almeida)

Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.

E soluçando,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.

E vou à toa
No ar mau que voa.
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.

*O site Vermelho.Org publicou um artigo interessante sobre as traduções dos poemas de Paul Verlaine.

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