O tribunal da quinta-feira, de Michel Laub

Recebido em parceria com a Editora Companhia das Letras, O tribunal da quinta-feira é o segundo livro do autor com o qual eu tenho contato. E já adianto: que contato maravilhoso. 

Dono de uma escrita contundente e subversiva, Michel Laub traz um enredo que fala sobre um publicitário que confidencia alguns segredos a um amigo, inclusive sobre um caso extra-conjugal e sua esposa acaba lendo por um descuido dele... Esse acontecimento desencadeia uma série de consequências densas para nosso narrador...




Seus textos tem um cunho ofensivo, devido a maneira como ele narra suas experiências sexuais com uma colega de trabalho, vinte e três anos mais nova que ele. Não bastasse a repercussão escandalosa que esses e-mails vão causar, pelo fato de sua esposa - agora ex - Teca divulgar nas redes sociais, causando um julgamento/linchamento social dirigido ao narrador, ainda há um fator alarmante em todo ocaso: uma suposta transmissão do vírus da AIDS

Walter, amigo e destinatário dos e-mails é portador do vírus há alguns anos, apenas José Victor sabia disso. Além de envolver a amante e a si mesmo nesse escândalo, a privacidade de Walter acaba sendo desnudada 'por tabela'. Mas ainda há muitos segredos a serem descobertos nessa confusão, inclusive da própria Teca... O risco/medo de contaminação permeia toda a narrativa.

Michel Laub nos entrega uma obra ficcional que faz referências a artistas falecidos por conta do vírus, mergulha nos anos 1980 numa espécie de viagem pelos primeiros anos em que a 'peste gay' causou o óbito de centenas de pessoas, incluindo amigos dos personagens Walter e José Victor. 

Em suma, uma excelente obra, que merece ser lida por aqueles que ainda teimam em resistir à escrita inteligente de Laub, grande nome da nossa literatura contemporânea atual, uma grande aposta que deu certo por parte da Companhia das Letras em publicar seus escritos. Não há como se decepcionar,mas prepare-se para um belo soco no estômago, que só as leituras do tipo viscerais fazem com sua vida...

"Ter um corpo de quarenta e três anos não impede que se pense como alguém de quinze. Um amigo meu gosta de fazer piadas sobre merda. Ele manda um Whatsapp: interditei o vestiário. Preciso comer mais linhaça, ele diz. Linhaça é saúde, granola e frutas, o reino das polpas cheias de fibras que tornam consistente o produto das entranhas, um bolo de micro-organismos vivos dos quais só nos lembramos ao sentar no vaso. É muito deselegante começar falando disso? Também lembramos do que somos feitos quando pensamos na morte."

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