Mais gentileza em 2016

Vários são os recados pelas timelines da internet, nos lembrando que nada de mágico acontece na passagem do 31/12 para o primeiro dia de ano novo. Nossas expectativas de um ano melhor dependem integramente de sermos melhores pessoas.

O quesito “civilidade” não parece ser mesmo nosso forte. O desrespeito está em toda a parte. Nas discussões que confundem democracia com “reconhecer que estou certo”, na falta de prudência no trânsito, no cocô de cachorro que ficou na calçada. Defende-se os próprios direitos gritando e chamando de “mocinho”. Desrespeitos à privacidade e falta de gentileza.

Os livros de etiqueta, quando não são manuais formais, são coletâneas de bom senso aplicado. São bastante óbvios em suas dicas, mas atentem ao público que ainda não decidiu se tem que comer asa de frango com a mão ou com a ajuda de talheres (basta tentar para identificar o jeito mais eficiente).

O assunto é tipicamente tratado por autoras escolhidas por seu refinamento, postura elegante, ou histórico “socialite”. Passei por dois títulos, e deixo abaixo minhas impressões: 

“É tudo tão simples”, de Danuza Leão, tem aquela marca de livro bem produzido. Socialites têm essa vantagem. Como são figuras notórias, o que quer que escrevam vai vender, então justifica a editora gastar mais: papel melhor, boa capa, bem diagramado, divulgação. Como esse livro caiu em minhas mãos? Estava numa pilha de doação, minha esposa se interessou, acabou que estava ao lado no banheiro – era ele ou o rótulo do shampoo. Mas não é que me surpreendeu?


Você pode achar Danuza Leão fútil. Eu preferi ver uma pessoa lapidada pelo tempo. Se valoriza, se cuida, e dá as coisas sua dimensão e apropriada insignificância. É gostoso ler suas dicas sobre como se vestir, responder a convites de festas, dar jantares, hospedar ou hospedar-se. Tudo sem compromisso, mas com delicadeza. A autenticidade de alguns comentários fazem as páginas passarem rápido:

“´A humanidade está três drinques atrasada´, disse Humphrey Bogart em 1950, e continuou: ´Se Stalin e Truman tomassem três drinques agora, o mundo não precisaria da ONU`” 

Já o “Alô, Chics” de Glória Kalil convenceu menos. Referência de etiqueta nos programas semanais, aproveitou o material produzido em seus programas de rádio para lançar livros  - e são vários. O material não era tão interessante, então não teve produção do livro que pudesse salvar. 


Vou usar da mesma delicadeza que ela tem ao responder as dúvidas de seus ouvintes/leitores ao comentar: o livro talvez seja relevante para algumas pessoas, mas não foi para mim. Um assunto a cada página, página e meia, ordenados sem razão significativa, cheios de bom senso (ok), mas sem nenhuma novidade. Foi um teste à minha promessa de terminar todos os livros que inicio. Vou provocar com uma citação polêmica:

“Pensem bem: não é muito mais fácil para nós mulheres fazer um cafezinho para eles – o que não é nenhum esforço do outro mundo - , mas, em compensação, poder contar com eles para trocar um pneu, que é uma tarefa desagradável e pesada? (...) Nada pode ser mais civilizado do que a troca de gentilezas entre duas pessoas que se tratam de igual para igual.”

Síntese: mais do que regras de etiqueta – e doses cavalares de bom senso – a humanidade precisa de tolerância e mais gentileza. Cada um de nós tem um universo dentro de si. Ao invés de nos sentirmos contrariados pelas diferenças, podemos nos sentir instigados a conhecer e explorar. Feliz 2016!!

Comentários

  1. Nunca li nenhum dos dois, embora já tivesse ouvido falar no Alô, chics!
    Bem, a impressão que o primeiro passou é bem válida, mas tenho minhas dúvidas se ainda não leria o rótulo de shampoo... xD

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