Lolita


Lolita, do autor russo Vladimir Nabokov, foi uma interessante leitura realizada nesse ano de 2015. Após concluída a história, me senti num misto de sensações que iam do asco à pena, e tendo muitas surpresas ao longo da narrativa... Lolita foi uma obra que chocou a sociedade na época em que foi escrita e até hoje é famosa por sua polêmica história, em que um homem, com quase quarenta anos, narra suas 'aventuras amorosas' com a enteada, a ninfeta Lolita, que tinha apenas doze anos... 


início do livro... 


O narrador, Mr. Humbert, ou H. H., narra desde sua infância até o envolvimento com uma mulher chamada Valéria, que acabou por deixá-lo por um taxista, e daí ele parte para outro local onde fica como inquilino na casa da mãe de Lolita, Charlotte. Ele vê na aproximação da mãe uma chance de chegar até a filha, e acabam se relacionando. Ao longo das semanas, ele sente a árdua tarefa de fugir das investidas amorosas da esposa, pois ele não se sente sexualmente atraído por ela e tudo o que ele mais deseja é a pequena Dolores.




Em vários momentos do livro ele se intitula como um monstro, por não conseguir ou simplesmente não se esforçar para suprimir seu desejo. Por vários momentos, o instinto pedófilo do protagonista se apresenta como patológico. Não sou Expert nesse campo, mas tive a sensação de que a atração que determinados homens sentem por meninas púberes é algo implícito em seus inconscientes, algo como um indivíduo psicopata [mas longe de mim querer aliviar o crime desses indivíduos, e sim tentar enxergar suas ações doentias' por outra perspectiva...] 

Por outro lado, não encontramos aqui uma criança tola e inocente por completo. Lolita possui um gênio indomável para a pouca idade. Seu corpo não possui atrativos para um homem considerado normal. Ela não tem seios nem quadris desenvolvidos, suas pernas são finas, suas roupas condizem com a idade de uma criança [bem, ao menos para os padrões de uns anos atrás...] e em paradoxo, percebe-se uma certa malícia em seus trejeitos, quase como se provocativos, deixando o leitor na dúvida, se ela provoca H. H. ou é apenas nossa imaginação culpabilizando a vítima...

"Mal o carro parou, Lolita lançou-se em meus braços. Não ousando, não ousando abandonar-me aos meus impulsos -  não ousando sequer imaginar que aquilo (doce umidade e trêmulo fogo) era o começo da inefável vida que, habilmente assistido pelo destino, eu havia, finalmente, permitido que surgisse; não ousando, na verdade, beijá-la, toquei-lhe os lábios quentes, entreabertos, com infinita piedade, em minúsculos sorvos, nada lascivos; mas ela, num movimento sinuoso, comprimiu tão fortemente a boca de encontro a minha, que lhe senti os grandes dentes da frente e participei do gosto de hortelã de sua saliva."

Após um incidente com Charlotte, o homem vê a chance que desejava de estar a sós com Lolita, e parte com ela numa viagem de carro, percorrendo várias cidades ao longo dos Estados Unidos e pernoitando em hotéis, motéis, drive-in e nesse momento, se dá a consumação da pedofilia com Lolita... 

Em várias brigas, ele tenta suborná-la ou puni-la, de acordo com seu comportamento/temperamento. As descrições das relações entre padrasto e enteada são sutis, mas nota-se o desconforto e até mesmo 'abandono' de Lolita quando está nos braços de seu 'papai'... Ao longo do livro, o narrador descreve seus medos de perder sua preciosidade, tanto para a justiça quanto para o tempo, pois ele sabe que à medida que ela vai crescendo, chegando à 'desagradável idade dos quinze anos'... os encantos que ela possui e que o atraem já não mais existirão... 

Existem duas adaptações para o cinema, sendo uma delas de Stanley Kubrick, e pretendo assisti-las tão logo possa... Se você gosta de livros que te tirem de sua zona de conforto, de escrita fluída e densa, repleta de elementos psicológicos, Lolita é uma boa pedida... 

Em suma, é um livro que abala o psicológico do leitor e o põe numa zona de desconforto e ao mesmo tempo curiosidade para saber no que a história vai dar... A narrativa é tão detalhista que por vezes, pensamos se tratar de um caso real, mas o autor deixa bem claro que se trata de uma obra fictícia... Não pretendo me estender sobre os pormenores da obra a fim de não tirar o elemento de 'descoberta' de quem for ler... Afora a polêmica trata-se de um clássico, e só por isso, já vale a leitura... 




Comentários

  1. Ei vi recentemente um cartaz no Facebook, protestando contra a romantização de Lolita, e eu acho que Dolores existe, é a criança, a vítima, aquela que chora todas as noites e finge está dormindo... e que Lolita nada mais é do que um personagem inventado pelo pedófilo sabe? Cheguei a esse conclusão após reler o livro pela segunda vez. Esse é sem sombra de dúvidas um dos meus livros favoritos favoritos, e compartilho desses mesmos sentimentos de nojo e piedade. É uma leitura bem complicada, pensei em abandonar o livro diversas vezes pois a vontade de esganar o Humbert era gritante, e saber que essa história não acontece apenas no mundo da literatura, torna tudo muito mais cru. Você teve a impressão de que o Vladmir estava falando sobre ele e que essa história é real?? Eu tive, a forma como a história foi narrada foi tão .. precisa (esqueci a palavra que eu ia usar aqui rs). Quando eu li o livro de primeira eu cheguei a culpar Dolores, como pode né? Até na ficção a vitima é a culpada.. depois que eu reli de uma forma não superficial, eu me atentei aos detalhes que estavam nas entrelinhas. No final de tudo essa história é terrivelmente triste...

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    1. é, tinha momentos no decorrer da leitura que eu pensei: cara, ele tá falando dele mesmo ou então de alguém que ele conheceu, não é possível xD
      Também vi esse cartaz... foi uma leitura bem conflituosa...

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    2. Lendo pela segunda vez eu também comecei a pensar assim.

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