Persépolis, a biografia em quadrinhos de Marjane Satrapi


Uma das experiência de leitura de quadrinhos mais incríveis que tive nas últimas semanas foi ter lido Persépolis, de Marjane Satrapi, publicado pela Ed. Companhia das Letras. Trata-se de uma autobiografia de uma garota que cresceu num país devastado pela guerra, uma das tantas que ocorrem no Oriente médio...

A linguagem do quadrinho é fluída, traz certa 'comédia' ao drama vivido por Satrapi desde a infância. Filha de pais modernos, sofreu bastante pela condição de ser mulher num país em que usar o véu de forma indevida ou pintar de esmalte as unhas do pé podem lhe render castigos...


Além do relato sobre sua infância no Irã, Satrapi nos conta como foi sua estadia na Áustria, por longos quatro anos, longe de sua família, de seus amigos, cultura - cultura esta que ela vai se distanciando cada vez mais a medida que toma decisões que chocam com sua integridade, e com seus preceitos orientais. Ela presencia a morte de perto, vendo pessoas com as quais conviveu sendo presas e mortas porque se opuseram ao regime do Irã, e por isso mesmo é mandada para a Áustria pelos próprios pais, que temem pela sua segurança, devido à forte personalidade que traz consigo...

Um dos pontos mais interessantes na biografia desenhada, é que Marjane Satrapi sempre foi uma garotinha que sonhava em ser revolucionária, almejava um futuro próspero e de paz em seu país e conversava com Deus. Mas a medida em que se tornava uma adolescente, os gostos ocidentais faziam seus pais se arriscarem para comprar um pôster de banda de rock ou algum botton de Michael Jackson pra ela - esses ideais iam se metamorfoseando. Quando ela viveu na Áustria, teve dificuldades com o idioma alemão, se envolveu com pessoas que - se vivessem no Irã, teriam sido mortas por suas peculiaridades. Ela teve o cotidiano invadido pela 'moda ocidental' e por muitas vezes teve sua fé questionada por si mesma, bem como os hábitos de sua religião...



Marjane sofreu algumas decepções amorosas, chegou a se casar, e antes disso, nem podia andar de mãos dadas com seu namorado, sob pena de ser xingada na rua, presa ou coisa pior... O bom de se ler Persépolis, é que a autora sabe tratar de tema tão denso com uma carga de humor na medida certa, sem exageros ou piadas sem sentido. Ela mescla o cotidiano com a situação do Irã de forma a fazer o leitor se encantar e ao mesmo tempo se penalizar pelo tratamento dado à população iraniana, em especial as mulheres durante o regime fundamentalista.

Existe uma adaptação cinematográfica do quadrinho, dirigida por Vincent Paronnaud e pela própria Satrapi, contando a história dela até os seus 21 ou 22 anos, ambientada entre os anos de 1969 e 1990. 


Em suma, é uma obra para ser apreciada, sem dúvida, e que levanta diversos questionamentos, bem como causar certo desgosto pela humanidade ser ainda tão pobre de paz...

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