A lenda do cavaleiro sem cabeça, de Washington Irving



Trago para vocês a resenha de uma história incrível, que mesmo não sendo tão lida é conhecida por muita gente. Trata-se de A lenda do cavaleiro sem cabeça. Escrita entre 1819/1820, por Washinton Irving, a história é um conto que faz parte do livro Os esboços de Geoffrey Crayon, uma coletânea de ensaios e histórias. 

"Era uma terra encantadora de mente fantasiosa, De sonhos que acenam diante de olhos semicerrados; E de castelos alegres nas nuvens que passam, Iluminando para sempre um céu de verão. Castelo de indolência." 

A obra é bem detalhista, curta e apesar do nome dar ênfase ao cavaleiro, a história gira mais em torno do lugarejo onde surge sua lenda e sobre o professor Icabode Crane, um professor atrapalhado, sem teto e que vive de ajudas que a população local lhe dá, incluindo aí um teto para dormir e comida. Ele dá aulas para as crianças do Vale Adormecido, e nasceu em Connecticut. Veio parar naquelas terras justamente para educar ops pequenos, e ninguém sabe de seu paradeiro depois que ele se encontrou com o famoso cavaleiro, que segundo a lenda, era um soldado que teve sua cabeça arrancada por uma bala de canhão. Fantasma esse que só dá o ar de sua [des]graça ao final do conto, embora seja citado desde o começo da narrativa. 

Christina Ricci e Johnny Depp, na versão de Tim Burton


Apesar de romanceado em vários filmes, incluindo aí a versão de Tim Burton, com Johnny Depp no papel do esfomeado professor, Icabode Crane não tem nada de romântico. Ao se aproximar de Katrina Van Tassel, ele pensa mais na comida e fortuna que herdaria ao se casar com ela do que com a própria beleza da moça. E mesmo sendo com esse objetivo, ele ainda precisa enfrentar a raiva de seus oponentes, pois a moça atrai vários admiradores na região, entre eles Abraham, ou Brom Van Brunt, como é mais conhecido. Sabendo que num embate ele seria logo derrotado, Icabode sempre foge das artimanhas de seu rival, mas não escapa das humilhações impostas por ele, ainda mais na frente de Katrina. 

"Teria vivido uma vida agradável, a despeito do demônio e de suas obras, se não tivesse cruzado seu caminho um ser que provoca mais perplexidade ao homem mortal do que os fantasmas, duendes, e toda raça de bruxas reunidas: uma mulher."

Como falei no início do texto, o doutor era ajudado pelos moradores do Vale, e passava noites e mais noites sendo servido com uma boa janta, sempre tinha um lugar para se hospedar e meio que fazia um 'rodízio de paragens'. Entre tantas noites de inverno ouvindo histórias das senhoras holandesas, e apesar do deleite em passar um tempo com tais pessoas, ele tinha medo quando precisava voltar ao local onde dormia...

"Mas o prazer que havia em tudo isso - no cantinho aconchegante ao pé da chaminé de uma sala em que a lenha estalando na lareira produzia uma coloração rubra, e onde, e claro, nenhum espectro ousava mostrar o rosto - só se tornava evidente na volta, graças ao terror que o acompanhava o retorno a casa. Que formas e sombras terríveis povoavam seu caminho, em meio ao fulgor vago e assustador de uma noite sob o manto da neve! Com que olhar ansioso ele observava cada raio de luz tremeluzente de alguma janela distante que cortava os campos incultos! Muitas vezes ele se assustava com algum arbusto coberto de neve que, qual fantasma encoberto por um lençol, surgia em seu caminho! Quantas vezes não se encolheu num arrepio gelado ao ouvir o som de seus próprios passos sobre a crosta gélida debaixo de seus pés; e teve medo de olhar por cima dos ombros, temendo dar de frente com algum ser misterioso a lhe seguir de perto os passos! E quantas vezes também não desfaleceu por completo por causa de uma rajada impetuosa, que vinha sibilante irromper por entre as árvores, achando tratar-se do Mercenário Galopante do Vale em uma de suas andanças noturnas!"


A história é contada sobre a perspectiva dos escritos de um tal Dietrich Knickerbocker, que relata os estranhos acontecimentos que precederam o desaparecimento do doutor Icabode Crane do Vale Adormecido, bem como a descrição da lenda do Cavaleiro contada por todos que habitavam o local. Segundo suas anotações, o cavaleiro foi sepultado no cemitério da igreja e ele sempre volta à noite procurando sua cabeça. Ele geralmente atravessa o vale apressado, pois precisa voltar ao seu túmulo antes que a aurora apareça no horizonte... Dietrich seria um visitante antigo do Vale, creio eu, e narra tudo com uma riqueza de detalhes impressionante... 

Em suma, A lenda do cavaleiro sem cabeça é uma história apropriada para uma noite fria e chuvosa, de preferência lida a pouca luz e melhor ainda se for numa sexta-feira 13 *risos*. É uma ótima opção para quem busca leituras curtas, pois tem apenas 72 paginas [ao menos minha edição, da Editora Nova Alexandria...]. É válido também assistir algum filme, mas se for assistir a versão de Tim Burton, não espere fidelidade absoluta entre o livro e o conto, embora não deixe de ser uma excelente adaptação...







Espero que tenham curtido a resenha. Até a próxima...

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