Provavelmente a obra mais conhecida do autor, e sucesso ao redor do
mundo, foi meu primeiro livro lido no Kindle. Um belo contraste, ler uma obra
de 1873 numa mídia eletrônica.
E esse contraste é o mais saboroso da leitura deste livro. Com a
evolução tecnológica dos meios de transportes, pela primeira vez na história da
humanidade se tornava possível a um indivíduo provido de recursos dar a volta
ao mundo, alternando-se entre navios e trens.
É claro, o mundo daquela época não era tão rico em intercomunicações. O
tempo antes da internet e das viagens de avião permitia que cada cultura
permanecesse intocada. Viajar era, então, a chance de contato com quase
alienígenas. Embora fossem civilizações humanas, as roupas, hábitos e religiões eram profundamente diferentes,
e não se conheciam.
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O Itinerário |
Os protagonistas do livro - o nobre Mr. Phileas Fogg e seu criado
Passepartout – numa brincadeira com sua origem francesa, indicando ser capaz de
passar por tudo – conseguem superar dificuldades com o idioma, diferenças na
gastronomia, passagem por fronteiras, vistos, etc – em sua luta por vencer uma
aposta – a volta ao mundo em 80 dias, retornando a Londres.
“Já
sei o que é, respondeu Fix. Você olhou a hora de Londres, que está quase duas
horas atrasada em relação à de Suez. Tem de acertar seu relógio pela hora local
de cada país.
- Eu! Tocar no meu relógio! Exclamou Passepartout,
jamais!
- Então ele não estará mais de acordo com o
sol.
- Tanto pior para o sol, senhor! Ele é que
estará errado!”
Julio Verne, francês, exagera as características inglesas, como a frieza
e pontualidade a um nível cômico. Também ressalta a latinidade do francês, com
uma postura mais emotiva e humana. Há o deslumbramento diante de cada cultura.
Como terá sido para o autor reunir tamanha quantidade de informações sobre
diferentes países e religiões? Será que viajou? Conhecia pessoas e obras em
diferentes lugares? Pesquisou tudo para escrever seu romance?
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O momento em que Fogg aposta sua fortuna no sucesso da viagem |
É claro que as vezes as descrições soam estranhas – sugerindo que ele
não tinha exatamente ideia do que estava falando – como ao descrever uma manga:
“mangas,
de bom tamanho, castanho escuro por fora e de um vermelho muito vivo por
dentro, e cujo fruto branco, ao desfazer-se entre os lábios, proporciona aos
verdadeiros gourmets um prazer sem igual.”
Por vezes, soa estranho a tradução antiga, como ao descrever o saquê e
os quimonos:
“´kirimon´,
espécie de roupão cingido por uma faixa de senda formando na cintura, pelo lado
de trás, um laço extravagante.”
“Saki,
licor tirado do arroz em fermentação...”
Mas o resultado final vale muito a pena. E assim descreve o caminho
percorrido, os percalços, as aventuras, num ritmo bastante adolescente, despretensioso
de ser um livro culto, mas claramente comprometido com o entretenimento. E que
diversão! O livro tem ritmo suave, gostoso, e um final bastante surpreendente.
E aí, você prefere viajar pelos livros ou de verdade?
das obras dele, foi a que mais gostei [do que li até agora].
ResponderExcluirOuvi dizer que ele nunca saiu de seu país e conseguia retratar mo bem [ou quase isso] os lugares que serviam de ambientação em suas histórias... =T
É uma leitura incrível, sem sombra de dúvidas...
Li este livro anos atrás. Gostei muito. Até virou filme. Será que a gente consegue mesmo dar uma volta ao mundo 80 Dias? Isso, parece mais fantasia do quê realidade. Sobre viajar através dos livros, é maravilhoso, a gente cria, fantasia um lugar encantado. Enquanto, a viagem própriamente dita, o lugar existe, só precisa conhecer.
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