Eu, Robô - O Que Queremos Da Tecnologia?

Quando garoto, fiz uma vez um robô com sucatas e dentro dele escondi um gravador. Para fazer a voz da criatura, bastava torna-la mais constante e monocórdia. As mensagens pré-gravadas exigiam as perguntas certas, e entregavam um conjunto limitado de respostas. Eu apertava o “play” logo após uma pergunta -  e voilá – tinha meu simulacro.

Asimo demonstrando seu apurado senso musical

Uma distância imensa de tecnologia separa meu monte de sucata do Asimo (o nome é uma clara homenagem ao escritor), simpático robô da Honda, capaz de interações diversas com os seres humanos. Ainda assim, ambos compartilham uma mesma limitação: fazem apenas o que está contido em sua programação. Não há criatividade.

O que seria da humanidade se os robôs deixassem os limites de resposta para os quais foram programados? Se fossem realmente inteligentes – até mais que nós – e passassem a assumir nossas tarefas com maior qualidade do que seriamos capazes?

Asimov propôs a mesma pergunta, e publicou uma série de contos em revistas de ficção científicas, reunidos posteriormente sob o título: “Eu, Robô”. Esqueça histórias de humanidade escravizada, como “Exterminador do Futuro”, “Matrix” ou mesmo o filme “Eu, Robô” – baseado nesta mesma obra. No universo de Asimov, as “Três Leis da Robótica” obrigam as criaturas a zelarem por seus criadores.

A mente humana sofre, porque é ela a tentar entender a si mesma: Ouroboros – a serpente que devora a si mesma. O autor queria nos mostrar que, se a inteligência dessas máquinas fossem capazes do julgamento moral, então também elas seriam vítimas de lutas internas, tais como os humanos. Seriam suscetíveis a erros de julgamento, raciocínios tautológicos, indecisões e fanatismos. Todos esses casos que desafiam a inteligência dos personagens Alfred Lanning e a Psicologa-roboticista Susan Calvin, ambos retratados de maneira superficial no filme com Will Smith.


A figura do robô na capa desta edição da Editora Aleph sintetiza o velho e o novo, e impressiona pelo bom gosto. Assim como o autômato que criei na infância, utilizaram lâmpadas ao invés das câmeras ao representar seus olhos. Simbolizamos desta forma, creio, que mais do que a funcionalidade de “enxergar” o mundo e interagir adequadamente, queremos que a tecnologia um dia tenha um brilho no olhar. Queremos que tenha uma alma para interagir conosco, satisfazendo assim a maior necessidade humana – por companhia.

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