Adeus, Manoel...


"Dentro de mim eu me eremito." Tratado geral das grandezas do ínfimo.


E quando pensamos que esse ano de 2014 não podia mais nos pregar peças, em virtude de ter levado tantos nomes importantes do meio literário, ele nos surpreende na reta final com o falecimento de mais um grande poeta brasileiro, o incrível e encantador Manoel de Barros...




Manoel estava com 97 anos e tinha sido internado em finais de outubro, vindo a falecer essa semana, dia 13 de novembro de 2014 por falência múltipla de órgãos... É decerto, uma grande perda para os admiradores de seus maravilhosos versos... Ele era natural do Mato Grosso, nasceu em Cuiabá, a 19 de dezembro de 1916... além de poeta, era fazendeiro e advogado...

Manoel é um dos meus poetas preferidos... Infelizmente não possuo nada de sua obra em meu acervo, mas sempre lia emprestado de um amigo ou da biblioteca; livros como Compêndio para o uso dos pássarosTratado Geral das grandezas do ínfimoEnsaios fotográficosO guardador de águasGramática expositiva do chãoPoemas rupestresMatéria de poesiaRetrato do arista quando coisa, entre outros, são livros que merecem ser apreciados, seja num dia chuvoso ou numa tarde ensolarada na varanda. A poesia de Manoel de Barros é transcendente, lírica, não é para entendimento, e sim para absorção... 

Mas o nosso querido Manoel partiu... depois de ter perdido os filhos anos atrás, sua vida foi definhando, e ontem a última chama se extinguiu... Vai, Manoel, encontrar teus filhos, que se foram antes do pai...

Ilustração de Luyse Costa


"Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas."

Comentários

  1. Bela homenagem! Gostava de:

    Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que fui salvo.
    Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
    Os bois me recriam.
    Agora eu sou tão ocaso!
    Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço coisas inúteis.
    No meu morrer tem uma dor de árvore.

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  2. Retrato do artista quando coisa

    A maior riqueza
    do homem
    é sua incompletude.
    Nesse ponto
    sou abastado.
    Palavras que me aceitam
    como sou
    — eu não aceito.
    Não aguento ser apenas
    um sujeito que abre
    portas, que puxa
    válvulas, que olha o
    relógio, que compra pão
    às 6 da tarde, que vai
    lá fora, que aponta lápis,
    que vê a uva etc. etc.
    Perdoai. Mas eu
    preciso ser Outros.
    Eu penso
    renovar o homem
    usando borboletas.
    <3

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