Não aprendi a gostar de poesia...

O texto de hoje foi escrito pelo colaborador e escritor Fábio Michelete.




Quando pequeno, fiz aulas de piano por um bom tempo. A prática me aproximou de autores do período barroco, clássico e romântico, com claras influências em minha forma de ouvir música. Desse aprimoramento de meus sentidos, aprendi a apreciar algo mais elaborado, curtir e empatizar com as emoções que afloram quando ouço uma música – e também apreciar a evolução da técnica, o momento histórico – e mesmo a tecnologia que se desenvolvia nos instrumentos e orquestras para proporcionar grandes espetáculos.

Já com a poesia, foi diferente. Poesia tinha cara de tarefa de escola, de prosa com exigências de rima e métrica. Grilhões e regras que me impediam de traduzir meus pensamentos e sentimentos. Coisa de românticos piegas, ou de vaidosos, que por acharem fácil fazer prosa, complicaram-na com outras exigências.

Reconheço que não é assim para todo mundo. Outras pessoas refinaram suas habilidades e conseguem aproveitar a poesia. Não é verdade que não me sensibilizo – em especial com Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes – mas a leitura recente de “Melhores Poemas – Cecília Meireles” foi árida para mim. Passei por todos os poemas, reconheci sua qualidade, entendi (acho) seus propósitos, mas gostar, gostar mesmo, uns três ou quatro. Num livro de mais de 180 páginas...

Fica então meu pedido de ajuda para encontrar algumas respostas. O que te faz gostar de poesia? Como posso trilhar este caminho? Ou devo me resignar e entender que não é meu estilo preferido de leitura?


Trecho selecionado:
Até quando terás, minha alma, esta doçura,
Este dom de sofrer, este poder de amar,
A força de estar sempre – insegura – segura
Como a flecha que segue a trajetória obscura,
Fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?
(fevereiro 1955) – Cecilia Meireles

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Comentários

  1. Oie :)

    Eu também não curto poesias por alguns motivos particulares mas sei apreciá-las em determinados tempos. Beijos!

    http://euvivolendo.blogspot.com.br/

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  2. bom, acho que poesia é algo assim: 'ou toca, ou não toca'. Lembro que li uma obra de uma autora tempos atrás e não gostei de nada, nada nada nada do que ela escreveu... e o livro tinha mais de 500 páginas... sequer UMA de suas linhas me deu emoção...
    Mas quando leio Manoel de Barros, Cecília Meireles, Vinícius... sinto algo pulsar mais forte...
    acho que poesia é questão de sentir... alguns sentem, outros não... isso vai além de entendimento... xD

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  3. Acho válido notar que há uma questão histórica implícita aí. Desde o Romantismo, mas com consolidação na prosa de Balzac, o romance passa a tomar o espaço da poesia e a expressar mais interessantemente o mundo burguês capitalista que surgia e se consolidava. A poesia, como expressão artística corriqueira, não é de nosso tempo.

    Um segundo ponto que vem de seu próprio texto: a poesia não te foi ensinada da melhor forma possível. Eu, por outro lado, tive uma professora que adorava digressões mas que ensinava literatura de forma fascinante. E a partir disso criei um gosto pela coisa que cheguei até a me aventurar pelo mundo da poesia, mas não deu certo. O que importa é: o primeiro contanto de uma pessoa com qualquer coisa, principalmente quando essa é subjetiva como a arte, pode definir como ela se comportará frente a isso pelo resto da vida.

    Meu tom pode parecer pessimista, mas meu concelho é a busca pela diversidade. Com isso quero dizer que (a menos que você já tenho feito mas não dito) passe a explorar a poesia mais. Você sitou em seu textos modernistas natos de caráter impressionante. Mas já leu Camões? Leu alguma epopeia (Odisseia, Os lusíadas, etc)? Conheceu o barroco satírico do Boca do Inferno? A historicidade é uma dica importante. A prosa nos é natural, como dito, porque vivemos seu tempo (embora moribundo segundo alguns); mas já a poesia...

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