Dublinenses - Os retratos irlandeses de James Joyce

Quando ouço ou vejo o nome James Joyce já me vem à cabeça aquele livro gigante de sua autoria, considerado o melhor romance em língua inglesa do século XX - “Ulisses”. De tanto ouvir que Ulisses é um livro difícil de ler ou “digerir”, não quis conhecer Joyce através dele porque confesso que esse tipo de leitura me assusta um pouco.

Aproveitando a indicação de uma professora, conheci o conto “Arábia” que faz parte da compilação de contos onde James Joyce retrata o cotidiano do povo irlandês – Dublinenses (no original Dubliners).
Dublinenses é o olhar de Joyce sobre seu próprio povo e suas origens. Em quinze contos retrata o sentimento irlandês, costumes e lugares de suas lembranças da infância pobre em Dublin.

Particularmente, eu gostei de somente quatro dos quinze contos: Eveline, Dois Galanteadores, A Casa de Pensão e Arábia, título que aguçou minha curiosidade de conhecer o livro.

Arábia 

Todo dia o garoto-narrador observa de sua janela, a irmã de seu amigo Mangan sair de casa. Ele a segue pelas ruas até conseguir conversar um pouco com ela. Apesar de se falarem pouco, a irmã de Mangan está sempre nos pensamentos do garoto, típica paixão de infância. Numa manhã, a menina pergunta ao garoto se ele irá à Arábia, um bazar de Dublin. Ele confirma que irá e a convida para ir junto, mas ela não poderá acompanha-lo, então ele diz que trará um presente do bazar para ela. Após a conversa, o garoto fica inquieto e ansioso para ir ao bazar, contando as horas e planejando sua "aventura".

Para comprar o presente, ele precisa pedir dinheiro ao tio que se atrasa e esquece completamente do pedido, pois está quase sempre embriagado. Após a tia chamar a atenção, o tio concede o dinheiro e no dia seguinte o garoto parte com ansiedade para o bazar. Mas o trem atrasa e ele chega quando o bazar está fechando. Ele se aproxima da única tenda que ainda está aberta, observando os objetos e esperando ser atendido pela mulher da tenda, mas é completamente ignorado. Frustrado e com raiva o garoto acaba não comprando nada e as luzes do bazar se apagam.

Estatua de James Joyce em Dublin
O conto Arábia, revela o fascínio de um novo amor (a irmã do amigo) e lugares distantes (o bazar) que se confunde com a familiaridade da rotina e da labuta diária, com consequências frustrantes. O bazar oferece experiências que diferem da Dublin de todos os dias e a irmã de Mangan deixa o narrador com novos sentimentos de alegria e euforia. Sua paixão por ela, no entanto, compete com as frustrações do dia-a-dia como a rotina da escola, atraso de seu tio e os trens de Dublin. 
O bazar decepciona o narrador que não encontra os objetos e mercadorias encantadoras do Oriente Médio e sim uma feira com objetos e pessoas ingleses (a mulher da tenda que o despreza).
Concluí-se que o garoto percebe que não precisa de presentes para demonstrar o amor pela menina, e que sua paixão não passa de uma ilusão, assim como a expectativa da ida ao bazar. Eu diria que o final do conto nos transmite uma sensação de pessimismo quanto as expectativas que criamos em torno dos nossos desejos.


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Comentários

  1. o primeiro contato que tive com Joyce foi com O retrato do artista quando jovem, e confesso que a leitura não 'engrenou' como eu esperava que fosse. Não é um livro ruim, mas ele me lembrou um pouco a narrativa de O apanhador do campo de centeio, de Salinger. E eu achei um pouco cansativa em alguns momentos, embora interessante as passagens de tempo e evolução do protagonista. Um dia, pretendo [re]ler a obra...

    Quando aos Dublinenses, por ser um livro de contos, eu quero mto ler, acho que na Bienal vou comprá-lo... Ulisses... um dia heheh :P

    bj, Pathy :D

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  2. Tenho a mesma impressão de Ulisses, Pat. rsrs
    Sei que um dia ainda lerei, quem sabe como leitura obrigatória na faculdade ou coisa similar.
    No entanto, sei que James Joyce é um exímio escritor e tanto O Retrato do Artista quando Jovem quanto Dublinenses eu leria com todo o prazer e curiosidade de conhecer sua escrita.
    Adorei este conto e suas reflexões a partir dela, vai para a wishlist. ;)

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  3. Eu devo ser MUITO obtuso, mas não vi nada disso em Arábias. Eu li sobre um garoto que curte uma menina, vai num bazar, chega muito tarde, e não curti nada na única loja aberta. Assim, ele volta pra casa bravo. Eu adoraria que me mostrassem onde eu estou errado, mas, até lá, achei esse conto a maior bosta que eu já li. Chato. Meio sem começo, e com um fim BEM sem graça. Conto sem sal. Bem parecido com Os Mortos, que eu nem consegui terminar, de TÃO sem graça. Queria muito, muito mesmo, entender onde James Joyce é tão bom escritor, assim.

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    1. Talvez ele não seja um bom escritor ou talvez você não seja um bom leitor. Imagino que seja a última opção.

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