Um cowboy perdido nas noites de Nova York...

"Enfiado nas botas novas, Joe Buck alteava-se a um metro e oitenta e seis do solo e sentia a vida diferente."

E assim conhecemos um personagem peculiar dessa obra escrita por James Leo Herlihy. Perdidos na Noite [Midnight Cowboy] fala sobre Joe Buck, um texano de maneiras simples que sonha em ir morar em Nova York para fazer fortuna. Tem um estilo Cowboy garanhão de ser e almeja trabalhar como garoto de programa para mulheres ricas [e posteriormente também homens], deixando para trás seu passado turbulento e problemático. O problema é que Joe, apesar da pinta de garanhão, é bastante ingênuo, e a cidade de Nova York não abre a possibilidades que ele acreditava conseguir ao chegar lá...

E daí o destino se encarrega de colocar Atzo Rizzo no caminho de Joe. Rizzo [ou Ratso] é baixinho, manco, sujo, vive de furtos na grande cidade, e nem tem um lugar decente para morar. Quando encontra Joe, trata logo de lhe 'passar a perna', pois percebe a ingenuidade do Cowboy. E no final, eles acabam se tornando amigos. Depois de se meter em algumas 'furadas', Joe reencontra Ratso num bar e eles resolvem se unir para ganhar a vida, Ratso passa a agendar encontros para Joe, agindo como um cafetão do rapaz.

Mas a cidade grande é cruel, e além da beleza da Estátua da Liberdade, do Central Park e da Times Square, Nova York esconde em seus becos sombrios e sujos indivíduos entregues à bebida, prostituição, jogatina e violência. E é nessa Nova York que os amigos Joe e Rizzo tentam sobreviver... 

O livro fala sobre sexo, pobreza, vazio existencial e abandono na cidade grande. Faz um mergulho profundo no cotidiano de pessoas totalmente desamparadas pela vida e que vivem de esmolas, sem um teto pra dormir e se iludindo em festas, clubes e bebida... a violência das ruas é gritante, e a impressão que dá é de que todos estão tão mergulhados em seus próprios problemas que não se comovem com as dificuldades dos outros... As dificuldades em arranjar um abrigo aquecido e comida acabam piorando o estado de saúde de Rizzo e Joe começa a ''trabalhar" mais para que não falte as necessidades básicas para os dois. Em meio a esse caos, Joe e Rizzo se tornam companheiros, um ajudando o outro a realizar seus sonhos esfacelados...

O autor, James Leo Herlihy, é um romancista e contista norte-americano, nascido em 1927. Assim como alguns de seus contemporâneos [Tennessee Williams, Truman Capote, entre outros], sua obra tem forte presença dos temas solidão e ausência de sentido na problemática sociedade urbana industrial. A falta de empregos, a desesperança e falta de perspectivas dos personagens faz com que o leitor se compadeça de cada um deles, em alguns casos, até se reflita em algum...

O livro teve uma adaptação para o cinema em 1969, com Jon Voight [o pai de Angelina Jolie] no papel de Joe Buck e Dustin Hoffman como Rizzo. Talvez pelo forte apelo homossexual, os dois atores foram indicados ao Oscar, mas não ganharam a estatueta. Porém, o filme levou 3 prêmios para casa, incluindo de Melhor filme em 1970. Além do Oscar, venceu também o BAFTA e foi indicado ao Globo de Ouro. Midnight Cowboy foi o único filme com temática homossexual que ganhou uma estatueta do Oscar.

Deixo a música tema do filme, que é bem bonita, um country que gruda na cabeça por dias. 

É um livro forte, e ao mesmo tempo sutil, que passa bem a mensagem de amizade em meio ao vazio existencial, onde todos se vão, e apenas os mais sofridos ficam... Faz refletir sobre o desencanto, amor, morte e acima de tudo... Esperança em dias de sol...

Comentários

  1. Hoje fazem 113 anos da morte do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Um amante da Terra e dos instintos vitais de sobrevivência. "Que morra a Verdade e faça-se a Vida". Obrigado Niet!!!

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  2. Valéria,

    Eu não conhecia o livro e nem o autor. Gosto bastante desse tipo de temática. Sempre que vejo uma história assim, me pego pensando o que há por trás de tudo na vida, nas entrelinhas, e como nos falta coragem suficiente para ver.

    Seu texto me indicou exatamente isso!

    Livro favoritado. :)

    Beijo de sol,

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  3. Cara, que livro lindo! Que música "pegajosamente" gostosa de ouvir. :)
    Vou baixar esse filme para ver. Adorei essa indicação. <3
    Também nunca tinha ouvido falar nem do autor nem da obra. Concordo com o que a Mara disse.

    AMEI esse post, Val! :D

    Beijão. :-*

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