Dose de poesia: Meus poetas preferidos - Parte 1/3

Abro aqui hoje uma série de postagens dividida em três partes sobre: meus poetas preferidosQuero destacar que não vou me alongar nas descrições sobre a vida dos mesmos e por isso estarei colocando em cada nome do poeta o link para Wikipédia para quem quiser saber mais sobre o mesmo, já que meu objetivo aqui, é falar sobre como os conheci e o que me chamou atenção na obra deles...
Espero com isso despertar o interesse dos leitores do dose por mais poesia em suas vidas ;)

Não posso dizer que amo poesia desde cedo, leio desde criança isso é um fato, mas poesia nunca havia me chamado atenção até que com uns 14 anos, eu conheci dois poetas que me fizeram amá-las. São eles...

"Todos os grandes poetas se tornam naturalmente,
fatalmente, críticos." (Baudelaire)
Charles-Pierre Baudelaire ou simplesmente Baudelaire, foi o meu primeiro e inesquecível poeta. Foi através dele que li o primeiro poema que realmente me chamou atenção e desde então, li sofregamente todos os poemas do mesmo que encontrei pela frente. Lembro que durante anos procurei incansavelmente seu livro As Flores do Mal, na época um livro raro pra mim pois eu moro em uma cidade do interior. Naquele tempo eu não comprava pela internet e como não viajo não tinha nem como comprá-lo na capital (até para consegui-lo em e-book era difícil). Vim lê-lo muitos anos depois e foi uma grande felicidade pois o achei na biblioteca pública da minha cidade em uma edição bilíngue. Hoje em dia já possuo meu exemplar e logo estarei relendo para fortificar minha admiração por esse poeta que em vida causou tanta polêmica por seu estilo de vida desregrado e irreverente.
Eis o meu primeiro poema, e digam por si mesmos se meu amor não é totalmente justificável....



Vampiro

Tu que, como uma punhalada

Invadiste meu coração triste,

Tu que, forte como manada

De demônios, louca surgiste,

Para no espírito humilhado

Encontrar o leito ao ascendente,

- IInfame a que eu estou atado

Tal como o forçado à corrente,

Como a seu jogo o jogador,

Como à garrafa o beberrão,

Como aos vermes a podridão

- Maldita sejas, como for!

Implorei ao punhal veloz

Dar-me a liberdade, um dia,

Disse após ao veneno atroz

Que me amparasse a covardia.


Mas não! O veneno e o punhal

Disseram-me de ar zombeiro

"Ninguem te livrará afinal

De teu maldito cativeiro

Ah! imbecil-de teu retiro

Se te livrássemos um dia,

Teu beijo ressuscitaria

O cadaver de teu vampiro!"


A partir do maravilhoso Baudelaire eu conheci outro, que se tornaria não só meu poeta preferido, mas também um dos meus escritores mais adorados e quem não o conhece afinal? 

"I Became insane with long intervals
of horrible sanity." (Poe)
O segundo foi ele Edgar Allan Poe, quem nunca ouviu falar no poema O Corvo? Aqui mesmo no dose temos postagens sobre. Mas na época eu nunca ouvira falar dele e admitir isso nos dias de hoje pode até causar estranhamento até porque Poe, se tornou um dos escritores mais cultuados hoje em dia e amplamente conhecidoMas é isso mesmo, o conheci em outra época, por outros meios e me apaixonei primeiramente por seus poemas e depois é que conheci seus contos fantásticos.
Conheci-o por Baudelaire porque o mesmo era grande admirador de Poe e eu pensei logo que se meu poeta preferido era tão fã de outro, esse então devia ser maravilhoso! Então o li e adorei suas poesias logo no primeiro momento...seu estilo tão sombrio e apaixonado. Era amor e morte em palavras, fiquei fascinada. 
O primeiro poema que li do atormentado Poe foi:





Annabel Lee

Foi há muitos e muitos anos já,

Num reino ao pé do mar.

Como sabeis todos, vivia lá

Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.
E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.
E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.
Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.
Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,

Ao pé do murmúrio do mar.


A partir desses dois grandes nomes, conheci dois outros grandes poetas, dessa vez brasileiros. E tenho que dizer: Maravilhosos. Talvez por causa do estilo dos mesmos eu me interessei logo: um Romântico da Segunda Geração e o outro considerado Simbolista. São eles:


Manuel Antônio Álvares de Azevedo ou apenas Álvares de Azevedo, um poeta jovem que viveu todos os ideais da geração romântica, morreu aos 20 e poucos anos, atormentado, apaixonado e sonhador. Seu poemas eram cheios de medo do amor, virgens impossíveis, escapismo...eu particularmente adorei tudo o que li dele e na época, adolescente, me deixei embalar por suas poesias.
Não lembro o primeiro poema que li dele, mas esse é um dos que mais gosto:


Se eu Morresse Amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
  Se eu morresse amanhã!

 Que sol! que céu azul! que doce n'alva 
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
  Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
    A ânsia de glória, o doloroso afã...
   A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

Álvares de Azevedo


Por fim, Augusto de Carvalho Rodrigues do Anjos ou Augusto dos Anjos, é um poeta sem igual. Já li muitos poemas mas jamais encontrei algum poeta com tanta originalidade como ele...não estou desmerecendo ninguém mas ele é único. Eis um dos meu preferidos dele:

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigêneses da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco, 
Este ambiente me causa repugnância... 
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 
Que se escapa da boca de um cardíaco.


Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas 
Come, e à vida em geral declara guerra,


Anda a espreitar meus olhos para roê-los, 
E há-de deixar-me apenas os cabelos, 
Na frialdade inorgânica da terra!

Logo logo estarei trazendo para vocês a Parte 2 e 3. Aguardem!

Comentários

  1. Eis algo pouco falado nesse boom de blogs literários no Brasil: poesia. Portanto, já ficam logo de início meus parabéns por ter abordado o tema.

    Quando li que não falaria das biografias, fiquei muito feliz, pois o que espero realmente de blogueiros é mostrarem suas impressões pessoais, e não ficarem brincando de Wikipedia.

    Só achei que seria mais interessante você já citar que poetas apareceriam em suas próximas postagens, pois assim alguns leitores poderiam-se adiantar em ler um pouco do material deles para trocarem impressões contigo.

    Só achei meio falho você propor-se a falar de poesia e já partir direto para autores. Um parágrafo que fosse comentando poesia em si seria muito interessante.

    Vejo que seus primeiros poetas foram internacionais, o que é raridade. Eu mesmo nunca consegui ler um poeta não brasileiro com gosto, pois sou da opinião que a poesia é uma daquelas coisas que se perde na tradução (quem lembrar quem disse isso, dê os devidos créditos aí xD).

    Achei muito pouco texto por autor, para falar a verdade. Escrevendo um pouco mais você poderia criar uma sensação de maior desejo de lê-los. Embora ter postado uma poesia de exemplo seja louvável.

    Ah... Álvares de Azevedo, esse cara é bom. Nosso Rimbaud, jovem, genial e maldito; como o francês. Mesmo para quem não gosta do estilo dele, um poema faz-se fundamental: Spleen e Charutos. Meu deus, que coisa linda os poemas que compõe essa coletânea. Lembrando que toda a produção dele encontra-se em seu único e póstumo livro: A lira dos vinte anos.

    Sobre o Augusto dos Anjos, não me senti muito a vontade com ele sendo dito como Simbolista. Não deixa de ter os traços do movimento, mas o vejo muito mais como um pré-modernista.

    Bom post. Até a próxima. :)

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    1. Jonathan, muito obrigada pelas críticas construtivas. Gosto quando os leitores fazem isso, porque assim posso consertar os pequenos erros e melhorar as postagens cada vez mais.
      No próximo texto já colocarei quais serão os próximos poetas, mas pra segunda sequencia teremos: Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Pablo Neruda e Florbela Espanca. Não havia citado já pra deixar no suspense...mas acho que é mesmo melhor ideia já anunciar e dar mais expectativa.
      Ei sei que foi muito pouco texto pra cada autor mas não queria me alongar porque querendo ou não todo mundo se cansa de textos muuuito grandes em blogs, o bom mesmo é se centrar nos pontos principais (ao menos acho isso) e eu falei menos da poesia, mais falei mais das sensações com cada poeta exatamente porque foi o que me veio na cabeça, a sensação que tive quando conheci cada um...e eu poderia falar mais da poesia em si mas eu suponho que falaria muito amadoramente pois não sou nenhuma especialista, apenas uma amante da poesia. Eu comecei sim a gostar pelos poetas internacionais mas através deles senti curiosidade de conhecer os daqui que são tão bons quanto.
      Álvares de Azevedo é um amor a parte e eu estou relendo o Lira, nunca deixa se ser bom. Rimbaud eu já não sou fã. Augusto dos Anjos é aquela coisa...eu pensei inicialmente em não identificá-lo por estilo nenhum mas já que eu havia feito com o de Azevedo eu resolvi colocá-lo com "considerado simbolista" mas eu mesma o acho tão único que fica difícil rotular.
      Que bom que gostou da minha proposta de postagem, MUITO obrigada pelas críticas tão bem feitas e construtivas, estarei mudando algumas coisas na próxima postagem para deixar essa série atraente da melhor maneira para que eu consiga assim alcançar a proposta de interessar os leitores por poesia.

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    2. Putz... Só gigantes na próxima postagem, mal posso esperar.

      Agora que você falou, realmente, textos curtos costumam atrair mais no mundo frenético da Internet. Bom argumento.

      Vira e mexe eu leio um internacional, mas nunca me sinto realmente a vontade. Mas em uma entrevista com um tradutor brasileiro que não me lembro o nome, ele questionou a plateia: "Por que só da tradução exige-se perfeição?". Pensando nisso, acho que é até um pouco de preconceito da minha parte com os tradutores. De todas as formas, seu post reabriu essa discussão na minha mente.

      O Álvares é realmente um prodígio, deve-se admitir. É difícil um amigo ao qual apresento o poeta que não goste, embora a maioria quando lê um pouco mais do autor o ache depressivo até demais. É o mal do século dele, fazer o que, né?

      Concordo contigo, Augusto dos Anjos é um poeta de difícil classificação dentro do literatura brasileira. Basta analisar o vocabulário cientificista que ele usa. Então, creio eu, que termine sendo arbitrário jogar ele entre os simbolistas ou pré-modernistas. De todas as formas, é um excelente poeta, isto que importa.

      Imagina, é um prazer ler os textos de você e de todas as outras autoras do blog produzem. Tanto que, se critico, é porque gostei. xD

      Ansioso pela continuação. :)

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  2. Oi, Tamara!
    Gostei da postagem, muito legal conhecer os poetas preferidos das pessoas... Eu ainda não leio muita poesia, já o fiz mais durante o Ensino Médio, mesmo na faculdade - local em que deveria estar devorando poesia e romances já que curso Letras - ainda não li muita coisa por falta de tempo, por falta de vontade... Muito feio admitir isso, eu sei!
    Dos poetas citados, conheço mais do Poe e do Álvares, que foi minha paixão de estudante... Eu era fascinada por tudo o que ele escrevia e a única na sala que gostava de ler a poesia dele :(
    Annabel Lee é LINDO, eu gostava muito de O Corvo até conhecer esse outro poema... Estou devendo a mim mesma um livro do Poe como presente :)
    Baudelaire e Augusto dos Anjos são dois outros poetas que conheço pouco, mas que eu espero ler mais 'coisas deles' em breve.

    Beigos,
    Maura - Blog da /mauraparvatis.

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    1. Maura, creio que se tu gostava de Alvares de Azevedo, vai se apaixonar ao menos um pouco pelo outros. E se dê de presente um livro de poemas do Poe que não vai se arrepender mesmo!

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  3. Que post mais maravilhoso! *-*
    Só tem DIVOS (rs)!
    Tenho uma adoração absurda pelos poemas de Álvares de Azevedo, um amor incondicional por Edgar Allan Poe e admiro muitíssimo Baudelaire e Augusto dos Anjos. Tô ansiosa por Fernando Pessoa e Florbela. :)
    Beijos.

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