Com um pouco de atraso, dou continuidade à série de posts sobre poesia. O primeiro foi sobre poesia brasileira, hoje vou falar um pouco sobre poesia portuguesa e meus poetas preferidos.
A arte portuguesa, principalmente o fado e a poesia, tem como característica marcante a melancolia. Amores perdidos, solidão e a morte são temas recorrentes, e eles estão presentes nas obras dos três poetas que comentarei hoje: Florbela Espanca, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa.
Florbela Espanca nasceu em 8 de dezembro de 1894 e teve uma vida atribulada, repleta de amores e separações, que a afetaram profundamente. Sua depressão foi agravada após o falecimento de seu irmão em 1927 e no ano seguinte ela tentou o suicídio pela primeira vez. Sua obra é carregada de erotismo e feminilidade. A natureza também era assunto comum em suas poesias. Com uma saúde física e mental frágil, Florbela aos poucos perdia a vontade de viver e esse sentimento é notório em sua obra. Eis que em 8 de dezembro de 1930, dia de seu 36º aniversário, Florbela comente o suicídio.
Aqui no Brasil, suas poesias foram publicadas em antologias editadas pela L&PM. O cantor Fagner musicou o soneto Fanatismo.
Amiga
Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.
Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!
Beija-me as mãos, Amor, devagarinho ...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho ...
Beija-mas bem! ... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos
Os beijos que sonhei prà minha boca! ...
Nascido em 1890, Mário de Sá-Carneiro foi um dos grandes nomes do modernismo português. Sua obra, influenciada por escritores como Charles Baudelaire e Edgar Allan Poe, foca principalmente em temas como a insatisfação pessoal e com o mundo. Sá-Carneiro passa bom tempo em Paris e em 1915 começa uma intensa troca de cartas com seu melhor amigo, Fernando Pessoa. No ano seguinte, ele envia uma última carta a Pessoa, explicando as razões pelas quais cometeria suicídio.
Dispersão
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
(...)
Não falarei muito sobre Fernando Pessoa, pois ele é um dos poetas preferidos de todas nós aqui do blog. Pretendo em breve organizar uma série de posts sobre ele, mas enquanto isso, leiam esse post que a Eni escreveu. A seguir, um trecho do poema Tabacaria, assinado pelo heterônimo Álvaro de Campos.
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
(...)
Conheci esses três poetas na escola, através dos livros de português e desde então eles se tornaram meus preferidos. Não me canso de ler e reler suas poesias, sempre descobrindo detalhes novos. A literatura portuguesa é muito rica, principalmente na poesia. Esses três talvez sejam os mais conhecidos e definitivamente, os que mais gosto.
Até o próximo post. :)
Florbela! <3
ResponderExcluirDois amores, Florbela e Pessoa! Aliás, ontem mesmo enquanto lia o Vol. 2 do "Poesia de Florbela Espanca" não contive lágrimas... como sofriiiiia essa mulher!
ResponderExcluirFisicamente ela me lembra a Pat. :)
Do Sá-Carneiro nunca encontrei nada, mas este nome não será esquecido na minha próxima peregrinação pelos sebos.
Seu texto, lindo lindo, Mi.