Dia desses um amigo me perguntou que tipo de poesia eu gostava de ler. Eu me assustei quando me dei conta de que além das do Bukowski eu não leio poesia. E isso é um absurdo. Quando eu era mais nova eu amava poesia, sempre lia várias delas, não sei o porquê de ter abandonado esse hábito. Resolvi fazer essa coletânea de algumas poesias que mais gosto para compartilhar com vocês. Dividi esse post em três partes: poesia brasileira, poesia portuguesa e poesia estrangeira (em geral). Também escolhi três poetas para cada post.
Quando eu estava na sétima ou na oitava série eu descobri Álvares de Azevedo. As poesias dele tinham muito a ver com as músicas que eu gostava, me apaixonei perdidamente pela obra toda. Hoje, acho que não me encanto mais tanto com esses temas, mas é impossível não reconhecer a preciosidade de sua escrita.
Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Augusto dos Anjos é outro poeta que eu adoro. A morbidez e o escárnio são temas frequentes de sua escrita. Gostei logo de cara porque ele seguia a mesma linha de Álvares de Azevedo, mas a melancolia dá espaço para a acidez e desesperança.
Versos íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
E você? Quais poetas brasileiros mais gostam?
Que post legal, Michelle! Antes de ontem eu estava estudando, dei uma surtada, parei tudo e fui atrás dos velhos livros de Literatura que eu ainda guardo aqui (da 8 série em diante).
ResponderExcluirFoi uma sensação boa, revigorante! Bati de frente com Augusto dos Anjos, Mário de Sá Carneiro, Álvares de Avezedo... Ih, demorei umas 2 horas para largar o livro.
Meus poetas favoritos são Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos, Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Sousa. :-)
Beijos e cometas,
Amo isso tudo ai :)
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