Grifar ou não grifar? Eis a questão!


"GRIFAR MEU LIVRO? Prefiro enfiar a cara no teto" - Foto de Lissy Elle


Leitura, vivência e expansão da mente formam uma tríade poderosa no processo de metamorfose humana. Livros, autores e (especialmente) personagens podem ter papel fundamental na transformação de atitudes, de modo de vida, de identidade. E, cá entre nós, ser co-responsável na mudança de alguém para melhor é algo GRANDE e que precisa ser valorizado.  Muitas vezes, esse encontro entre leitor & obra é registrado com a velha tática do grifo, isto é, através da "marcação de um trecho ou frase para chamar a atenção, destacando a parte sublinhada" (obrigada, Houaiss). 

Grifar um livro é sinal de desprendimento. Vou explicar: Depois de ler o post da Eni com dicas maravilhosas sobre conservação de livros, me vi às voltas com a seguinte dúvida: "Não marcar livros é sinal de conservação e zelo ou só mais uma prática mesquinha, de puro TOC ou egoísta"? Confesso: não tenho o hábito de marcar os meus livros. Tive que fazê-lo com lápis ou apontador no semestre passado quando estava pesquisando para a minha tese de conclusão de curso e precisava de rapidez, agilidade e praticidade para localizar fragmentos, mas muito me doeu. Também não escrevo em torno dos livros, não faço anotações neles, evito tudo que possa maculá-los. Mas, após ter atravessado essa fase e retornado para consulta, vi a facilidade que isso me proporcionou.

"Ah, pai... Colé?! Deixa eu grifar os quadrinhos do jornal?"
Anteriormente, eu costumava gastar horas escrevendo em cadernos ou agendas que reservava justamente para isso. Tenho pilhas e mais pilhas amontoadas aqui em casa com minhas anotações e registros em cadernos que datam de mais de 8 anos (faço isso desde o ensino médio). Mesmo com toda a minha catalogação, ainda é muito difícil localizar fragmentos ou pesquisar material que preciso. Na última semana, devido a uma grande quantidade de mofo no local onde guardo as pastas, a maior parte dos meus papéis precisou ser direcionada para o lixo. Lá se vão anos e anos de anotações que eu não saberia mais localizar. Fiquei triste mas, como "nem mesmo a solidão vem sozinha", comecei a pensar sobre deixar meus grifos no próprio livro, já que eles são muito mais do que pedaços de papel: são amigos que estão ali a qualquer hora, perenemente, para ajudar, iluminar, expandir, divertir, auxiliar e... (a lista de verbos é enorme, melhor parar. rs).

Depois de muito pensar, sentir a real necessidade e encontrar "apoio moral" em espaços como Grifei Num Livro, decidi abrir as portas do desapego: comecei a marcação. Comecei marcando o livro de contos que irá ser tema dos meus próximos comentários (dica: o autor deles mudou a vida da Michelle, amiga querida), depois tasquei a canetada amarelo-verde-cana nos dois últimos que comprei: O Mistério de Marie Rogêt (Edgar Allan Poe) e "A corista e outras histórias" (Anton Tchékhov). E vou continuar, seja de marca-texto, lápis ou post-it (menos caneta, porque meu coração ainda não se preparou para estar no estágio do Thoreau). 

Selecionei alguns trechos grifados que retirei daqui:

Seu Rosto Amanhã [vol. 1] Febre e Lança. Javier Marías. pág. 404
(via @juliebrandao)

Cultura Pós-Nacionalista. Décio Pignatari 
(via Gabriela Pires Machado)

Valise de Cronópio. Julio Cortázar. pág 63
(via Thamires Araujo

No One Belongs Here More Than You. Miranda July
(via horrorscopes)

poem Somewhere I have never travelled. Edward Estlin Cummings (via @diariogravido)

E você? Tem algum grifo especial? Algum trecho que mudou sua vida ou simplesmente alterou suas emoções? Compartilha, vai! :)

Comentários

  1. Eu sempre grifo os trechos que me tocam de alguma forma. E sempre fiz isso sem pensar muito nessa coisa de não estragar o livro. Na verdade, acho o contrário, quando faço essas marcações sinto como se fossem mais meus, sabe? Me sinto mais próxima dos livros assim. :)

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  2. Bem dito, Camille! É com este pensamento que eu estou caminhando em uma nova direção: a dos grifos. :) Deixa os livros um pouco mais nossos, né? Uma marca, um momento, um significado, tornando tudo mais especial.

    Obrigada pelo comentário. (:

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  3. Mas menina! É preciso muita disciplina pra ficar passando anotações pro caderno! eu, particularmente, qdo tentei fazer isso (uma ou duas vezes...rs) achei q 'quebra' a leitura. Tb sou completamente desapegada nessa questão. Assim como a Camille, penso que essas marcações (bem como anotações nas laterais, na parte superior ou inferior das pág), acabam por virar uma conversa com o autor ou com as personagens. Sinto q deixo de ser uma leitora passiva pra me tornar uma participante do livro e isso é bem gostoso!
    Agora vou xeretar o tumblr q vc indicou no corpo do texto.
    bjs.
    Aline Belle
    (cadernodabelle.blogspot.com)

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  4. Que interessante o seu post, Mara!
    Eu era totalmente contra grifar livros, sempre reservei cadernos para anotar passagens importantes. Mas eu sempre lia no metrô, como copiar tudo que eu achava interessante?
    Passei a grifar apenas com lápis e bem fraquinho. Nada de caneta ou de grifa texto.
    Recentemente aderi aos post its. Mas esses apenas para livros que não são tão importantes pra mim. Kerouac, Bukowski, Palahniuk...esses sim exigem a leitura com um lápis ao lado!

    Beijos, Mara!

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  5. Aloha, Aline! :)

    É bem tudo o que você disse mesmo: deixar de ser uma leitora passiva e passar a operar, a interferir, a conectar, a interagir... No fim, o materialismo todo, o apego, são coisas sem preço. O que fica é o que você ''faz daquilo que te fizeram'', como diria o Sartrezão. :) Grifar é o registro do que os livros nos fizeram, né?

    Beijos e obrigada. :)

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  6. Mi, passei pelas MESMAS situações. Estava caminhando, no ônibus, no médico, no ambiente de lobby (hahahaha, queria dizer trabalho, mas não tá dando por enquanto)... Como poderia registrar tudo? E além do mais, existem as questões que foram levantadas pela Camille e Aline sobre interação e leitura ativa. :)

    Um beijão :*

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  7. Tenho livros que em quase todas as páginas existe um post-it colado. Outros (como os do Huxley, por exemplo) que eu destinei um caderno só para as anotações, porque não anoto só os trechos que achei interessante, mas as minhas impressões a respeito da leitura naquele momento. Atualmente uso minha agenda para copiar a mais pertinente das frases, capturar ideias, colocar em pauta a leitura... mas escrever no livro evito ao máximo, com caneta, jamais! Na minha reles opiniões acho uma falta de respeito com a obra, e com o próximo leitor, afinal, meu marido também lê meus livros, e um dia meus filhos lerão. Já comprei livro do Miller "Plexus" (da trilogia) num sebo e folheei pouco antes de levá-lo porque estava com pressa, ao chegar em casa e folhear com mais atenção quase chorei de tanta raiva, estava todo grifado à caneta, rabiscado, com anotações pessoais do antigo leitor, telefones anotados, enfim, tentei devolver ou trocar por outra obra posteriormente mas o dono do sebo não aceitou.
    Quando não temos a intenção de emprestar, passar a diante, doar ou vender para um sebo, acho que a gente deve fazer o que nos der vontade com o nosso livro, a leitura é algo muito pessoal, acho até interessante saber das distintas opiniões a respeito de uma mesmo obra, já encontrei por exemplo dentro do "O Alienista" do Machado de Assis, uma redação de um aluno do ensino médio a respeito da obra, ele tirou nota 8,0, achei o MÁXIMO ele ter guardado a redação dentro do livro.
    Portanto não sou contra, só não faço. Sinto dor no coração, de verdade, quando vejo um livro todo riscado. :/

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  8. Eu costumava grifar, mas agora tenho que caderninhos que ganho das amigas então o destino deles serão minhas anotações daqui pra frente.
    Os livros que costumo "rabiscar" são livros em inglês, mais pelo aprendizado mesmo, grifo palavras, escrevo a tradução do lado... mas é só nos livros em inglês.
    Adorei essa observação Mara!
    :*

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  9. Grife e escreva o quanto quiser. Devasse-o! Crie uma marca pessoal e indelével!

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