Créditos: Arquivo Pessoal |
Dose Literária – A propósito, você é um assíduo pesquisador e leitor sobre o caso da Dália Negra, não é?
Perry Grayson: Eu sou totalmente obcecado com o caso Dália Negra, juntamente com outros crimes horripilantes, especialmente das décadas de 1930 a 1950. Embora eu prefira a "era noir," eu não discrimino as outras. Crimes, em geral, me fascinam. Eu acompanhei o caso de Jack, o Estripador, quando era criança. Eu fui atraído para os País das Maravilhas dos Assassinatos parcialmente devido ao meu antigo emprego com empacotamento e propaganda na maravilhosa L.A., como designer gráfico de filmes adultos envolvendo o infame ator pornô John Holmes, viciado em cocaína, o títere do crime organizado Eddie Nash e um grupo de traficantes de drogas de Laurel Canyon.
Meu ex-chefe conhecia Holmes bem, e havia fotos dele circundando o nosso escritório no início os anos 1980 em conjunto com Holmes e a estrela Ginger Lynn. Nossa, como eu divaguei! Voltemos agora para 1946-47! Eu tinha ouvido sobre o caso Dália Negra em Los Angeles desde muito jovem. Em primeiro lugar, por conta do apelido estranho, pensei que devia ter sido um assassinato no estilo Viúva Negra. Você sabe, uma senhora assassina. O nome me fez pensar isso. Não! Então eu vi o filme feito para TV “Quem é a Dália Negra”, com Lucie Arnaz e Efrem Zimbalist Jr., e de certa forma digeri isso mais um pouco. Um tempo depois eu vi “A Dália Azul” (com roteiro de Raymond Chandler), e percebi que ela tinha recebido o apelido devido àquele filme. Durante a adolescência, ficou muito claro para mim que Elizabeth Short era na verdade uma vítima de assassinato. A história triste de Beth Short brilha como um farol desesperado na obscura história de Hollyweird (trocadilho para weird Hollywoon ou estranha Hollywood)! Na verdade, eu comecei mergulhando fundo no caso poucos dias depois de me assentar em Sydney (Austrália). De repente, tive a capacidade de investigar algo que eu queria desesperadamente em L.A. (apenas a cidade imersa em putaria caótica não me deixou). Muito da minha rotina oscilava entre trabalhar 45-50 horas por semana, ensaios, shows, etc! Eu li todos os livros sobre o caso Dália, centímetro por centímetro, para não mencionar quase todos os capítulos sobre o assassinato de Beth Short em antologias de crimes reais ou enciclopédias, etc. Nos últimos seis anos, eu li e recolhi a maior parte dos artigos de jornal originais sobre o caso, incluindo um monte de microfilmes que ainda precisam ser digitalizados (como L.A. Examiner, Herald Express e Hollywood-Citizen-News). Rondar pela decadente, sórdida e escandalosa, negra maldade do mundo real, por assim dizer, levou-me a iniciar um projeto de escrita sobre crimes. Atualmente está com o título provisório de Dirty Deeds in L.A. (“Fatos Sujos de L.A.”). Durante a pesquisa para escrever Dirty Deeds eu acabei me tornando amigo do autor de Severed, John Gilmore, um dos maiores especialistas em Dália Negra. Há ainda muita desinformação circulando sobre o caso, o qual permanece sem solução, apesar das diversas teorias. Eu estava absolutamente viciado pelo fascinante nome do caso, a beleza física de Beth Short (mulheres realmente se enfeitavam naquela época!), o drama humano de sua vida breve e os detalhes bizarros de sua morte. Como John Gilmore disse, "Tudo retorna ao corpo branco, pálido, partido em dois na cintura e sem sangue."
Meu ex-chefe conhecia Holmes bem, e havia fotos dele circundando o nosso escritório no início os anos 1980 em conjunto com Holmes e a estrela Ginger Lynn. Nossa, como eu divaguei! Voltemos agora para 1946-47! Eu tinha ouvido sobre o caso Dália Negra em Los Angeles desde muito jovem. Em primeiro lugar, por conta do apelido estranho, pensei que devia ter sido um assassinato no estilo Viúva Negra. Você sabe, uma senhora assassina. O nome me fez pensar isso. Não! Então eu vi o filme feito para TV “Quem é a Dália Negra”, com Lucie Arnaz e Efrem Zimbalist Jr., e de certa forma digeri isso mais um pouco. Um tempo depois eu vi “A Dália Azul” (com roteiro de Raymond Chandler), e percebi que ela tinha recebido o apelido devido àquele filme. Durante a adolescência, ficou muito claro para mim que Elizabeth Short era na verdade uma vítima de assassinato. A história triste de Beth Short brilha como um farol desesperado na obscura história de Hollyweird (trocadilho para weird Hollywoon ou estranha Hollywood)! Na verdade, eu comecei mergulhando fundo no caso poucos dias depois de me assentar em Sydney (Austrália). De repente, tive a capacidade de investigar algo que eu queria desesperadamente em L.A. (apenas a cidade imersa em putaria caótica não me deixou). Muito da minha rotina oscilava entre trabalhar 45-50 horas por semana, ensaios, shows, etc! Eu li todos os livros sobre o caso Dália, centímetro por centímetro, para não mencionar quase todos os capítulos sobre o assassinato de Beth Short em antologias de crimes reais ou enciclopédias, etc. Nos últimos seis anos, eu li e recolhi a maior parte dos artigos de jornal originais sobre o caso, incluindo um monte de microfilmes que ainda precisam ser digitalizados (como L.A. Examiner, Herald Express e Hollywood-Citizen-News). Rondar pela decadente, sórdida e escandalosa, negra maldade do mundo real, por assim dizer, levou-me a iniciar um projeto de escrita sobre crimes. Atualmente está com o título provisório de Dirty Deeds in L.A. (“Fatos Sujos de L.A.”). Durante a pesquisa para escrever Dirty Deeds eu acabei me tornando amigo do autor de Severed, John Gilmore, um dos maiores especialistas em Dália Negra. Há ainda muita desinformação circulando sobre o caso, o qual permanece sem solução, apesar das diversas teorias. Eu estava absolutamente viciado pelo fascinante nome do caso, a beleza física de Beth Short (mulheres realmente se enfeitavam naquela época!), o drama humano de sua vida breve e os detalhes bizarros de sua morte. Como John Gilmore disse, "Tudo retorna ao corpo branco, pálido, partido em dois na cintura e sem sangue."
Dose Literária – O conto “A Morte de Halpin Chalmers” foi publicado na antologia O Ciclo de Tindalos”, junto com outros autores do gênero. A ilustração de capa do livro é bastante original (assinada por Thomas S. Brown). Como seu conto entrou para esta coleção? É fácil encontrar um agente (editor)? Quanto tempo demora para publicar um livro?
Capa de O Ciclo dos Tindalos |
Perry Grayson: O Ciclo de Tindalos é uma estranha antologia temática de ficção Lovecraftiana, editada pelo meu velho amigo Bob Price, para a Editora Hippocampus (dirigido por outro amigo, Derrick Hussey). É na verdade uma espécie de homenagem ao melhor amigo de Lovecraft, Frank Belknap Long, que escreveu "Os Cães do Tindalos", um conto curto e estranho apresentando ameaçadoras criaturas vindas da quarta dimensão (os cães do título de FBL), que podiam invadir a nossa dimensão através de ângulos. De certa forma, FBL adotou o gosto de HPL pela criação de um panteão de entidades sobrenaturais onipotentes. HPL criou criaturas como Cthulhu, Yog Sothoth, Azathoth e Nyarlathotep. Não tanto "deuses", mas seres cósmicos cujas motivações estão além das preocupações humanas mesquinhas. FBL acrescentou os Cães de Tindalos a esse grupo. Assim, todas as histórias na antologia tinham que ser primeiramente um sinal para criações de Long e, em segundo lugar, para Lovecraft. Bob Price leu "A Morte de Halpin Chalmers" na minha pequena edição do zine Yawning Vortex, em 1995. Ele me perguntou um ano mais tarde se poderia usá-lo para esta antologia Lovecraftiana relacionada ao Ciclo do Mito de Cthulhu que ele estava editando para o Chaosium. Claro que eu estava feliz! Os outros livros de Chaosium foram muito bem sucedido, como “O Ciclo de Azathoth” ou o “O Ciclo de Hastur” ou seja lá o que for. De algum modo, a editora do livro mudou de mãos três vezes. Eu fui pago pela história em meados de 2000, quando a Editora Hive estava prestes a publicar. Alguns anos se passaram. Então, ouvi rumores que a Editora Night Shade ia publicá-lo. Finalmente, por volta de 2009, recebi um e-mail de meu amigo, o editor S.T .Joshi, dizendo que ele estava ajudando Bob Price na organização antologia para a Editora Hippocampus. Havia um problema: Bob tinha perdido o texto da minha história, depois de nove anos. Uma lufada de ar fresco. Havia uma chance de rever um pouco e juntar alguns floreios do tipo noir/ policial. Só vai para provar que às vezes leva quase uma década para um livro ver a luz do dia.
Créditos: Arquivo Pessoal |
Um agente? Poderia muito bem estar falando de encontros alienígenas. Eu nunca tive um agente literário. Não há experiências com eles além de quando eu costumava falar com ex-agente de Frank Belknap Long, Kirby McCauley, por volta de 1994-96. Os dias de grande agente de Kirby tinham acabado. Ele estava queimado demais pelos anos de bebida e drogas para ser útil com as muitas coleções Frank Belknap, tempo que eu estava editando e tentando negociar com as editoras. Meu primeiro trabalho remunerado como escritor freelancer foi em 1995, quando eu publiquei um artigo sobre os quadrinhos de terror de Frank Belknap Long na fábrica de gritos (Scream Factory) (uma versão anterior a que aparecera no jornal Outras Dimensões (Other Dimensions) da Editora Necronomicon). Em 1999, eu era um escritor da equipe do Metal Maniacs. O Metal Maniacs me pagou por cada fragmento que eu contribuí, mesmo que tenha sido uma ninharia e tenha atrasado. Eu já não escrevia mais de graça, a menos que eu estivesse fazendo um favor para um amigo. As editoras, como a indústria da música, têm sido impactadas pela invasão da “Prostituta Digital" (Internet) - no século 21. A "Web Maligna”, como foi colocado por Chuck Schuldiner, criador das bandas Death e Control Denied. Por que as pessoas pagam por música ou livros, quando eles podem encontrar o material de graça online? As gravadoras e editoras são muitas vezes desonestas, então é outro tipo de situação no estilo Catch 22*. Eu nunca tive um único livro meu publicado, mas editei dez edições de Yawning Vortex de 1994-97, vários folhetins de autores (pequenos livretos grampeados) pela minha própria editora, Tsathoggua, e contribuí para revistas de grande circulação. No lado musical da moeda, eu tive dois álbuns completos que foram amplamente distribuídas por uma grande gravadora de Indie Metal, um EP muito bem recebido em duas pequenas gravadoras de Indie Metal e dois álbuns completos do Falcon pela gravadora Liquid Flame (a mesma gravadora da lenda do Cult Metal Cirith Ungol!). Eu fui de certa forma bem sucedido até um ponto no pequeno cenário editorial na década de 1990. Então me concentrei mais em minha carreira musical e no jornalismo de Rock Pesado e Metal. Se ser publicado por uma editora de mercado de massa é algo como assinar um contrato com uma gravadora como a Metal Blade (mau!?), eu posso definitivamente viver sem isso. Eu ainda tenho a editora Tsathoggua, que tenho a intenção de ressuscitar de seu longo hiato em breve. Tanto quanto eu estou preocupado, editoras, gravadoras, promotores de shows, etc, precisam pagar o escritor ou o músico pelo seu trabalho árduo e propriedade intelectual. Conclusão: se não o fizerem, é roubo. Um crime, droga!
Dose Literária: Perry, você também fez parte da décima primeira edição, no último semester do ano passado, da edição da revista virtual brasileira Desenredos, a qual é especializada em literatura e artes no geral. Que tipos de contatos você tem no Brasil?
Perry Grayson: Obrigado pela oportunidade de contribuir para a Desenredos, Mara (Nota: Perry teve seu texto selecionado e publicado pela equipe editorial da revista)! É sempre legal participar de publicações em outros países. Ao longo dos últimos anos nós vendemos vários CDs do Falcon para fãs brasileiros. Eu me lembro de ter vendido diversos pedidos da Editora Tsathoggua para o Brasil e em outros lugares na América do Sul. Além de conhecer você (Nota: referindo-se à Mara Vanessa) online (através do nosso amor mútuo pela música de Chuck Schuldiner no Death e Control Denied), eu não tenho muitos contatos no Brasil. Por algum tempo eu estive conversando com um cara chamado Nelson Filho, um amigo de meu velho amigo, Rob Preston. Nelson fez questão de licenciar o álbum homônimo do Falcon (2004) em vinil em 2006, mas isso não aconteceu. Eu adoraria visitar o Brasil e outras partes da América do Sul algum dia!
Dose Literária: Quais são seus planos para um future breve? O que está chegando em termos de contos, livros e produções literárias?
Perry: Grayson: Eu fiz uma parceria com Dan DeLucie, meu segundo guitarrista do Destiny’s End, para criar site chamado os Mundos do Estranho (WoW) (http://www.worldsofweird.com), que foi fundado no início de 2012. WoW é um site no estilo blog, sempre fascinante, muitas vezes nerd, com foco em todas as coisas relacionadas com horror, fantasia, romance policial/ mistério e ficção especulativa (SF). Eu estou prestes a estrear meu site de Rock Pesado e Metal, Volcanic Rawk, que é algo similar ao WoW. Eu havia planejado iniciá-lo no ano passado, mas esse projeto foi desviado devido ao "mundo real", à procura por uma casa, etc. Algo para substituir parcialmente o momento de rock jornalístico que eu perdi quando a Metal Maniacs faliu. Eu também preciso publicar um livro reunindo minha primeira década de rock / metal jornalístico. Chama-se Heavy Writin’ Raw (Escrita pesada e crua), um trocadilho do meu slogan no Falcon, "Heavy Rockin 'Raw!" Eu reuni a maior parte do material, mas quero rever algumas coisas. Além disso? Tantos projetos na linha de frente (não atrás!). Todo este material vai começar uma nova era de na Editora Tsathoggua. Em seguida há “A Coleção de Poesia de Frank Belknap Long” (combinado com “O Olho Acima da Cornija e Outras Histórias”). Esse tem estado quase terminado há anos. Só precisa ser colocado dentro das especificações de impressão e ser revisado novamente por mim e outro par de olhos. Eu também tenho uma coleção de Romance Policial/ Mistério de Frank Belknap Long nas obras (Johnny no Local/ Johny on the Spot). Há uma vasta coleção de conto Ficção Científica/ Fantástica de FBL (No Limiar das Dimensões/ On the Threshold of Dimensions), uma coleção de não-ficção de Long (A Visão de Long/ The Long View) e um volume de escritos de outros em FBL (reminiscências pessoais, crítica literária, etc, intitulado “O Homem Atemporal”). Eu comecei a pesquisa e a redação preliminar sobre a biografia definitiva de Long em 1993-94, e espero realmente terminar de escrever isso algum dia! Sentindo-me verdadeiramente inspirado, eu escrevi mais de 100.000 palavras durante meus primeiros anos "Down Unda". Eu escrevi uma peça autobiográfica sobre a delinqüência juvenil chamada Restless Dreams of Youth (Sonhos Inquietos da Juventude). Quando eu era adolescente, li exposição Harlan Ellison sobre as gangues infantis de 1950 em Nova York, Memos from Purgatory (Memórias de Purgatório), e sabia que um dia eu escreveria algo semelhante sobre crescer como um metaleiro e aspirante a músico cassado e desgostoso. Eu estou a meio caminho de um Romance Policial moderno/ noir chamado ficção fantástica, mas que atualmente está em estado de espera. Claro que eu tenho de equilibrar tudo isso com o meu trabalho rotineiro (é preciso manter um teto sobre minha cabeça e comida na mesa!), música (o terceiro álbum do Falcon a ser gravado dentro de um ano!) e todos os problemas inesperados da vida. Ser um editor requer um investimento (tempo e dinheiro). Eu não estou muito em posição de publicar um zilhão de livros agora. Vai acontecer no tempo certo. Eu não vou ficar espalhado, vou levar as coisas devagar. Seria incrível construir uma vida confortável apenas com escrita, edição, publicação e música, mas isso nunca foi uma opção para mim. Novamente, não é a realidade. Podemos muito bem estar falando sobre demônios e magos. Algumas pessoas dizem que eu sou negativo e autodestrutivo quando eu digo coisas desse tipo. Para transformá-lo em uma situação positiva? Eu gosto do velho ditado: "Se você quer algo bem feito, faça você mesmo!" Saudações para o espaço de divulgação, Mara! Foi um prazer conversar com você! Um abraço ao Dose Literária e todos os leitores!
Curiosidades sobre Perry Grayson:
* Perry é fã ardoroso do legado de Chuck Schuldiner, considerado um dos principais difusores do Death Metal. Grayson tem um vasto material em sua coleção particular e sempre é cotado como referência no que diz respeito a história do Death e Control Denied, bandas de Chuck.
* O músico e escritor é apaixonado por gatos. No apartamento em que mora, na Austrália, Perry divide o espaço com 3 felinos.
Créditos: Arquivo Pessoal. |
Quantas inspirações! Que mente ativa e produtiva!
ResponderExcluirSendo fã do Chuck já ganhou todos os meus créditos e minha admiração. ;)
Mara, aonde podemos ler os escritos de Perry? O que tem traduzido para o português?
Agradeça-o infinitamente por esta contribuição ao Dose, e assim que ele lançar seus futuros trabalhos (ou até mesmo na divulgação dos já publicados, sejam musicais ou literários), terá todo o apoio do nosso blog (e do Guitarra & Música) para a divulgação. :)
Que coisa boa, Eni! :} Fico feliz demais que tenha sido bacana! Olha, dá para conseguir o que o Perry escreve diretamente com ele - que é um cara extremamente acessível.
ResponderExcluirVou te passar o contato por e-mail - e para quem mais se interessar, claro! :D
Beijo,