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Maiakóvski, poeta russo |
Vladimir Maiakóvski é um cara quase intraduzível, pois além de escrever poemas russos - um idioma por si só difícil de traduzir – renegava a poética tradicional, tornando suas poesias hiperbólicas, descomunais, o que, para os tradutores, se torna um desafio de associação de tema à rima, de forma à ideia, coisa que Augusto e Haroldo de Campos fizeram com respeitosa habilidade aos escritos originais no livro "Maiakóvski, Poemas", lançado pela editora Perspectiva, em 2011 e distribuído gratuitamente pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo ao Projeto Leituras do Professor.
Nas 171 páginas desta edição, destaco a introdução de Boris Schnaiderman; o "Eu Mesmo" de Maiakóvski em que ele se descreve, transparece o seu interior em intimidade com o leitor; e os mais de 30 poemas com algumas imagens, gravuras e manuscritos originais, riqueza aos olhos!
Compostas com coerência, autenticidade, e acima de tudo originalidade, dificilmente dá para se escolher dentre todos, o poema preferido, o que torna o escritor um ícone da poesia russa moderna, considerado como o maior poeta do futurismo. Ele dava grande importância à rima, na maioria incomuns, encaixadas por assonância, o que permitiu, segundo Schnaiderman (tradutor), “uma exploração absolutamente nova dos recursos sonoros da língua russa”.
Confessou certa vez Maiakóvski, que chegava a escrever sessenta variantes do mesmo verso, pesquisando mais de uma vez as melhores sonoridades, a adequação mais perfeita entre a estrutura sonora e o tema.
É um dos poetas russos mais estudados, respeitados e admirados no meio literário vanguardista.
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Poema escrito após saber da morte do amigo e poeta Sierguéi Iessiênin (retirado do "Maiakóvski, Poemas", página 108):
Até logo, até logo, companheiro,
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo.
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Iessiênin, no Hotel Inglaterra, em Leningrado, algumas horas depois de seu suicídio, em 28 dezembro de 1925. |
Nascido em 1883 num vilarejo de Geórgia, Rússia, Maiakóvski aos 15 anos já demonstrou interesse político agregando-se a facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo. Além de poeta, foi dramaturgo e teórico, ficou preso em duas ocasiões (uma delas por quase 1 ano) por conta das atividades políticas; entrou para a Escola de Belas Artes, e durante a guerra civil se dedicou a desenhos e legendas para cartazes de propaganda e fez
publicidade de produtos diversos.
Fundou em 1923 a revista LEF (de Liévi Front, Frente de Esquerda),
que reuniu a “esquerda das artes”, isto é, os escritores e artistas que
pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação
social.
Fez inúmeras viagens pelo país, aparecendo diante de vastos auditórios para os quais lia os seus versos.
Foi homem de grandes paixões, arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo.
Oficialmente, suicidou-se com um tiro em 1930.
Glorifica-me!
Os grandes não se comparam a mim.
Em cada coisa que eles conseguiram
Eu carimbo um nada
Eu nunca quero ler nada.
Livros?
O que são livros!
Antes eu acreditava que os livros eram feitos assim:
um poeta vinha, abria levemente os lábios,
e disparava louco numa canção.
Por favor!
Mas parece, que antes de se lançarem numa canção,
os poetas têm de andar por dias com os pés em calos,
e o peixe lento da imaginação,
lateja ligeiro no bater do coração.
E enquanto, com a filigrana da rima, eles cozem uma sopa
de amor e rouxinóis,
a estrada sem língua apenas sucumbe
por não ter nada a gritar ou a dizer.
meu primeiro contato com Maiakóvski foi justamente com esse livro dele. ^^
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