O texto a seguir é do nosso convidado Carlos Crow.
(Carlos Crow é formado em História, fotógrafo profissional e faz parte de uma ONG que luta pela preservação de animais marinhos - Sea Shepherd Brasil).
"Há
muito tempo atrás, em um país muito distante, homens viveram para defender sua
liberdade e a de seu reino. Liberdade usurpada de um rei deposto com três leões
perdidos por um rei tirano. Um xerife em busca de poder. Muitos homens lutaram
com as únicas coisas que a floresta poderia lhes fornecer, madeira, frutos,
pedras e caminhos tortuosos.
Hoje faz
quase três anos em que nos separamos de nossas terras, três anos que nos chamam
de criminosos, três anos sem ver amigos de outras vilas, condados ou cidades. A
três longos invernos tivemos de nos refugiar na floresta que nossos ancestrais
atravessaram para fundar nosso condado. Sherwood sempre foi vista como um
caminho difícil e obscuro pelos homens e mulheres que a atravessam e disso nos
valemos para criar nossas defesas contra os poderosos, Rei da Inglaterra e o
Xerife, que vivem nos caçando. Homens, mulheres e crianças enfiados nos cantos
mais escuros e tenebrosos com histórias de fantasmas, demônios e perigos que
nossa floresta pôde criar durante os anos em que cavaleiros a cruzaram. A
natureza é nossa anfitriã, nossa casa, parte de nossa família, nosso salão,
nossos quartos, nossa capela. Só ela nos fornece esperança a cada nova manhã
para que possamos nos levantar e poder alimentar nossos filhos e outros que se
abrigaram conosco. Não somos muitos e isso nos ajuda, porém nosso método de
batalha os fez pensar sermos muitos, pura cria de mentes de homens assustados
que quando pressionados por seus comandantes afirmam que eram muitos homens
armados dos pés à cabeça, alguns com mais de dois metros (bem que o Pequeno
John tem um pouco mais do que isso), outros com força descomunal (nosso caro
Frei Tuck quando bebe sai de si).
Aprendemos
a ler os sinais da terra, dos rios, rochas, ventos, das árvores e dos animais
que dividem suas casas conosco. Sempre que necessitamos de madeira e frutos
para nossa vida e luta diária, pedimos a deus que olhe por nós todas as vezes
que derrubamos alguma árvore ou quando pegamos frutos. Não podemos deixar
rastros ou sinais de que passamos por ali em busca de alimentos. Como falei
aprendemos a ler os sinais das árvores e, portanto só pegamos os frutos mais
maduros que estão por cair ou os recém-caídos.
Nossas
crianças brincam com suas amigas árvores e os animais da floresta. Permitimos que
amarrem brinquedos que elas gostam de fazer com madeiras imitando homens e
mulheres nas árvores ao longo da estrada o que é visto por muitos cavaleiros do
rei que a frequentam como algo que não é cristão. Nós sabemos que tais
brinquedos são bem cristãos, mas até agora ninguém contou nada a eles, nem
nossos amigos que não vemos a três anos de outras vilas e condados o fizeram,
portanto sabemos que nossa luta tem o apoio deles.
Para a
segurança de nosso esconderijo como falei antes usamos de histórias tenebrosas
criadas pelos próprios homens. Para afastar indesejáveis o medo dos homens, do
xerife, do usurpador, soldados, cavaleiros, nobres e ricos foram levados contra
eles mesmos. Quais destes não tem medo de dragões? Com a ajuda de amigos de
vilas e condados vizinhos espalhamos a história de que um grande dragão vivia
naquela área da floresta de Sherwood, que havia queimado outro vilarejo de
proscritos dentro da floresta e matado a todos sem deixar corpos! – Foram todos
engolidos pelas chamas na garganta da besta cuspidora de fogo. Para dar
veracidade à história construímos um vilarejo e colocamos fogo nele. Para
ajudar os homens do xerife a chegarem lá queimamos árvores, quebramos rochas
com fogo e água. – A besta habita várias grutas da floresta, foi o que
espalhamos também e em diversas delas semeamos o medo em seus arredores
espalhando armas quebradas, elmos amassados, escudos de madeira chamuscados e
queimados e escudos de metal mordidos com marcas de dentes de javali, mas que
os homens do xerife juravam ser de dragão, muitas lanças queimadas fincadas em
árvores e flechas quebradas no alto de árvores e troncos secos como fosse o
sinal de uma batalha. Vez por outra quando capturávamos um de seus homens
jurávamos levá-los á gruta do dragão e estes prometiam por sua honra nunca mais
lutar contra nós, honra naquele tempo era sagrada!"
O
VERDADEIRO PROSCRITO:
Sim ele existiu, ROBIN HOOD
foi mais real que muitas das histórias que o cinema nos traz.
A história acima
remonta diversos livros daquele que hoje chamamos de Herói, o que em seu tempo
era tido como um OUTLAW, aportuguesando FORA DA LEI, ou seja, que vive às
margens da sociedade.
Para conhecermos este homem
mais a fundo precisamos conhecer um pouco do contexto histórico que nos fora
trazido por diversos livros, documentos históricos e linguagem cinematográfica.
Em diversos livros, assim
como no cinema, Robin Hood é colocado no final do reinado do Rei Ricardo III, o
Ricardo Coração de Leão. Reino que fora usurpado por seu irmão João sem Terra.
Isto não representa a verdadeira história e sim uma adaptação de muitas das
lendas criadas para Robin Hood.
Mas afinal, onde começa a
verdadeira história e acaba a lenda?
Documentos remontam a
história de Robin Hood ao final do século 13 e inicio do século 14. Fora um dos
vassalos do senhor feudal de Wakefield, SIR THOMAS LANCASTER, que se levanta
contra o rei Eduardo II, por volta do ano de 1322. O motivo da revolta do Feudo
de Wakefield foi o pedido de ajuda ao rei após péssimas colheitas, fome,
aliadas a uma péssima conjuntura econômica e social do reino, onde o rei
Eduardo II se recusou a ceder ajuda. Este foi o espaço onde Robin se fez herói.
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Mapa de Sherwood |
Alguns documentos como o que
está na imagem abaixo são claros, em inglês medieval podemos ler: HOBBE HOD
FUGIT, ou seja, Robin Hood fugitivo.
Por volta de 1323, Eduardo
II, percorre o norte com seu exército pacificando a região e perdoando
rebeldes. Em Nottingham sua majestade perdoa um grupo de proscritos liderados por
um homem que utilizava o LONGBOW, arco longo, muito popular na virada do século
XIII para o século XIV.
Os nomes ROBERT, ROBIN e
HOOD foram nomes muito utilizados na Inglaterra medieval.
Um dos fatos mais marcantes
acerca de Robin Hood é que esta era também uma expressão casual para se definir
os OUTLAWS, foras da lei, a partir do século XIII (da mesma forma que hoje
utilizamos outra expressão como João Ninguém ou em inglês o popular John doe), entretanto
não se sabe o porque disto, será que houve realmente somente um Robin Hood ou
deveríamos nos perguntar quantos Robin Hood teriam de fato vivido!
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