Os títulos dados à Anton Tchékhov sempre me instigaram, por ser um russo, contista, atemporal, nascido no século XIX, conhecido mundialmente mas que eu até então não tinha tido a oportunidade de conhecer.
Na realidade nunca havia me deparado com nenhuma obra dele até recebê-lo em um envelope de remetente Patricia (obrigado amiga por este tesourinho!).
Me senti tão agraciada com esta “adivinhação de pensamento”, que passei-o na frente de todos os outros “livros à ler” da minha significativa lista de livros-não-lidos.
Li-o em poucas horas, não somente por ter 64 páginas, mas por ter me levado à esta ambientação russa de um século atrás com tanta magnificência em suas descrições, mesmo tendo como coadjuvantes de seus contos as pessoas comuns, com suas rotinas, perfídias, sordidez e autocomiseração. Tchékhov, usando sempre um tom de humor generoso e discreto, trata da narração com tamanha leveza que esta me fez sentir até mesmo compaixão por seus mais lânguidos protagonistas.
Neste livreto da Coleção 64 Páginas lançada este ano pela Editora L&PM, constam 8 de seus contos.
A palerma refere-se a governanta de um senhorio que a convoca em seu gabinete para acertar seu pagamento utilizando argumentos pouco plausíveis para descontar-lhe seu merecido dinheiro, dando-lhe uma lição de moral ao final.
No reencontro inesperado entre dois antigos amigos numa estação de trem, O Gordo e o Magro protagonizam uma história de exacerbada reverência aos títulos que ambos adquiriram na sociedade ao longos dos anos sem contato.
De título Ele brigou com a esposa e subtítulo Fato Verídico, este conto retrata as lamentações de um marido ao chegar em casa. Verifiquei um fato do cotidiano marital, em que o consorte engole à seco suas opiniões acerca da esposa enquanto se faz rude a um suposto pedido de perdão. Não pude deixar de imaginar sendo este protagonista o próprio Tchékhov, também não pude deixar de conter o riso.
Três atores itinerantes encontram um pomposo montante de dinheiro em A carteira, planejando como irão gastar, mas preocupados em como irão partilhar essa quantia. Entre os pensamentos de ganância de um e de outro, e falsos elogios e solidariedade mútua, nesta breve história há uma moral digna de reflexão.
A corista recebe em sua casa uma visita inesperada e se vê diante da sofreguidão da esposa de um de seus amantes que alega estar passando dificuldades financeiras com seus filhos, e sentindo-se trocada pelo marido, apela para um ser par de conjuras contra a cantora, no entanto, a protagonista que é até então odiada pelo leitor, está na verdade a sofrer uma fraude. Essa inversão de sentimentos muito me encanta e o autor consegue com muita harmonia, proporcionar essa variação de compadecimento pelas personagens.
Uma história de amor é narrada em A Dama do cachorrinho, em que duas almas comprometidas pelo laço matrimonial se encontram e passam a vivenciar este proibido e fulminante sentimento que gradativamente se eleva com a distância entre eles, em seus furtivos e calorosos encontros às escondidas.
Em o tocante A noiva, Nádia se vê infeliz com a ideia do enlace matrimonial que se aproxima, levando uma vida inerte em seu vilarejo e sem muitas perspectivas apesar de ter como noivo um jovem de bom nome e caráter. Com o passar de uma temporada de seu primo Sacha em sua residência, a protagonista encontra neste amigo conselhos para o despertar de sonhos de uma vida livre e independente, em um lugar distante, e fugida dali, abandonando família e noivo, parte para uma viagem determinada a seguir sua própria vontade.
Finalizando com banal mas bem humorado Trapaceiros à Força – Historinha de Ano-Novo o filho ansioso em demasia por o copo de um bom trago antes das doze badaladas do ano-novo, tenta pôr pressa ao mesmo adiantando-lhe os ponteiros enquanto a mãe está na cozinha a preparar o banquete. A mama, por sua vez, comete o mesmo ato ao ver as horas de aproximando do fim sem se dar conta do trapace.
Vale a pena cada linha lida, cada sentimento revivido, cada riso roubado. Tchékhov faz jus ao título que lhe foi atribuído de um dos melhores contistas de todos os tempos!
Na realidade nunca havia me deparado com nenhuma obra dele até recebê-lo em um envelope de remetente Patricia (obrigado amiga por este tesourinho!).
Me senti tão agraciada com esta “adivinhação de pensamento”, que passei-o na frente de todos os outros “livros à ler” da minha significativa lista de livros-não-lidos.
Li-o em poucas horas, não somente por ter 64 páginas, mas por ter me levado à esta ambientação russa de um século atrás com tanta magnificência em suas descrições, mesmo tendo como coadjuvantes de seus contos as pessoas comuns, com suas rotinas, perfídias, sordidez e autocomiseração. Tchékhov, usando sempre um tom de humor generoso e discreto, trata da narração com tamanha leveza que esta me fez sentir até mesmo compaixão por seus mais lânguidos protagonistas.
Neste livreto da Coleção 64 Páginas lançada este ano pela Editora L&PM, constam 8 de seus contos.
A palerma refere-se a governanta de um senhorio que a convoca em seu gabinete para acertar seu pagamento utilizando argumentos pouco plausíveis para descontar-lhe seu merecido dinheiro, dando-lhe uma lição de moral ao final.
No reencontro inesperado entre dois antigos amigos numa estação de trem, O Gordo e o Magro protagonizam uma história de exacerbada reverência aos títulos que ambos adquiriram na sociedade ao longos dos anos sem contato.
De título Ele brigou com a esposa e subtítulo Fato Verídico, este conto retrata as lamentações de um marido ao chegar em casa. Verifiquei um fato do cotidiano marital, em que o consorte engole à seco suas opiniões acerca da esposa enquanto se faz rude a um suposto pedido de perdão. Não pude deixar de imaginar sendo este protagonista o próprio Tchékhov, também não pude deixar de conter o riso.
Três atores itinerantes encontram um pomposo montante de dinheiro em A carteira, planejando como irão gastar, mas preocupados em como irão partilhar essa quantia. Entre os pensamentos de ganância de um e de outro, e falsos elogios e solidariedade mútua, nesta breve história há uma moral digna de reflexão.
A corista recebe em sua casa uma visita inesperada e se vê diante da sofreguidão da esposa de um de seus amantes que alega estar passando dificuldades financeiras com seus filhos, e sentindo-se trocada pelo marido, apela para um ser par de conjuras contra a cantora, no entanto, a protagonista que é até então odiada pelo leitor, está na verdade a sofrer uma fraude. Essa inversão de sentimentos muito me encanta e o autor consegue com muita harmonia, proporcionar essa variação de compadecimento pelas personagens.
Uma história de amor é narrada em A Dama do cachorrinho, em que duas almas comprometidas pelo laço matrimonial se encontram e passam a vivenciar este proibido e fulminante sentimento que gradativamente se eleva com a distância entre eles, em seus furtivos e calorosos encontros às escondidas.
Em o tocante A noiva, Nádia se vê infeliz com a ideia do enlace matrimonial que se aproxima, levando uma vida inerte em seu vilarejo e sem muitas perspectivas apesar de ter como noivo um jovem de bom nome e caráter. Com o passar de uma temporada de seu primo Sacha em sua residência, a protagonista encontra neste amigo conselhos para o despertar de sonhos de uma vida livre e independente, em um lugar distante, e fugida dali, abandonando família e noivo, parte para uma viagem determinada a seguir sua própria vontade.
Finalizando com banal mas bem humorado Trapaceiros à Força – Historinha de Ano-Novo o filho ansioso em demasia por o copo de um bom trago antes das doze badaladas do ano-novo, tenta pôr pressa ao mesmo adiantando-lhe os ponteiros enquanto a mãe está na cozinha a preparar o banquete. A mama, por sua vez, comete o mesmo ato ao ver as horas de aproximando do fim sem se dar conta do trapace.
Vale a pena cada linha lida, cada sentimento revivido, cada riso roubado. Tchékhov faz jus ao título que lhe foi atribuído de um dos melhores contistas de todos os tempos!
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Anton Tchékhov - 1889 |
Que bom que gostou! :)
ResponderExcluirAdoro literatura russa também... acabei de ler Tolstói e recomendo também! Beijos
Tenho vontade de conhecer a literatura russa mas aqui onde moro não tenho muito acesso e não queria comprar sem ter a certeza que vou gostar. Mas acho que vou arriscar qualquer dia desses.
ResponderExcluiraiii, eu queeero ler *-*
ResponderExcluiramo literatura russa.