Retratos Londrinos


Charles Dickens (1812-1870) tem uma característica que parece peculiar ao estilo inglês: observação. Seus trabalhos começaram a ser publicados em meados de 1830, quando a Inglaterra vivia a Era Vitoriana. 179 anos depois, Dickens continua tão atual quanto qualquer bom autor de livros-reportagens.


Retratos Londrinos (Record, 302 pág., tradução de Marcello Rollemberg) traz à tona toda a potencialidade do contista que, esmiuçando a realidade de Londres do século XIX, imortaliza fatos e caricaturas da época sem deixar o tom sarcástico e irônico que o consagrou. Impossível não se envolver com personagens que parecem sair do papel e ganhar vida, misturando ficção e realidade.



Imagine a Dona Clotildes, sua vizinha chata e corpulenta que, ao sinal de qualquer barulho, sai na porta de casa para protestar. Ou aquelas beatas de igreja, sempre prontas a “ajudar” o novo cura. Lembre também dos ex-abonados, os quais, sem ter a quem recorrer, procuram agiotas. Ah, claro: não esqueça do Seu Leopoldo, o funcionário público que enterrou 3 gerações e continua atrás de ninfetas.

E não termina aí: festas “beneficentes”, profissionais da lei que se acham acima do bem e do mal, bajuladores, transporte público... Charles Dickens não poderia ser mais atual. A sensibilidade em falar dos pacientes de hospitais; dos famintos e marginalizados, sempre englobando toda sorte de temas sociais, confirma a evidente capacidade do autor em ser muito mais do que números, detalhes, relatos secos ou românticos.

Dickens era jornalista de corpo e alma, pois soube mesclar como ninguém informação com humanidade. É isso que faz de Retratos Londrinos um livro tão especial; um verdadeiro achado.

Comentários

  1. Só tendo uma criatividade excepcional para dar vida a tanta diversidade de personagens assim e com tamanha riqueza descritiva.
    Muito bom!

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