Só para os raros: resenha de O Lobo da Estepe

Confesso que fazia muito tempo que não lia nada. Justo eu, que passei a infância e maior parte da adolescência metida entre livros e visitas frequentes às bibliotecas, fazia quase um ano que não lia um único livro sequer. E sempre que abria a pasta de downloads no computador, lá estava ele, me intimidando. Sabia que teria que ler aquele livro, que ele seria o pontapé inicial pra minha volta às estantes. Então comecei.

A escolha de O Lobo da Estepe, se deu porque eu sou fascinada por lobos e sua essência. Então se o livro falava, mesmo que metaforicamente, sobre lobos, a possibilidade de lê-lo inteiro e gostar era já bem grande. Depois da leitura fui procurar resenhas, opiniões, e descobri que o livro é um clássico e já foi cult em duas épocas distintas. Não teria como ser diferente. Escrito por Hermann Hesse, ganhador do Prêmio Nobel, o livro fala sobre um cinquentão aposentado e misantropo, que vive isolado e se orgulha por ser um outsider, alguém que não se encaixa na atual sociedade e por isso vive entre livros e música clássica.

A primeira metade do livro é toda voltada aos pensamentos de Harry Haller sobre si mesmo, sobre a burguesia, sobre a guerra e sobre sua intensa insatisfação e inadequação com a sociedade vulgar e medíocre em que está inserido, e por isso ele se denomina O Lobo da Estepe. Passamos a entender como ele pensa, sente e interage, e até mesmo suas caminhadas noturnas pelos ruas e tabernas, sempre descritas de uma forma quase onírica, nos fazem entender porque ele sente tão intensa decepção com a música popular, com pessoas frívolas e senso-comum. Seu tédio constante e desinteresse por qualquer coisa o faz pensar constantemente em suicídio.

Até que em uma de suas caminhadas, ele se depara com uma placa luminosa que diz  

"Teatro Mágico 
Entrada só para os raros
Só para os raros"

e logo depois recebe um panfleto de um ambulante cujo título "Tratado do Lobo da Estepe", é uma enorme e reflexão sobre si mesmo, sobre a natureza humana. Harry, que sempre achou que sua natureza se dividia entre duas - a humana e a lupina, pela primeira vez vê que a personalidade humana é multifacetada, sendo não duas, mas centenas de diferentes naturezas. 

A partir daí, Harry vai descobrindo, com a ajuda de Hermínia, Maria, Pablo e o Teatro Mágico, novas sensações físicas e intelectuais. Aos quase cinquenta anos, Harry Haller é forçado a se abrir para conhecer tudo o que, por toda a vida, rejeitou. A confirmação da multifacetada natureza humana ocorre dentro do Teatro, onde, numa viagem interior, regada a drogas e alucinações, toda sua vida é confrontada. 


Gostei demais do livro, e apesar de ter lido em Ebook em três dias, é com certeza o próximo na minha lista de aquisições.

Comentários

  1. Lindo o livro! E mais linda ainda a resenha!!!
    Você será nossa "resenheira" oficial Anna, porque eu para fazer resenha de livro sou péssima, acabo colocando a minha opinião pessoal em tudo, preciso trabalhar mais isso em mim.
    Mas resumindo, adorei!

    Dei esse livro ("roubado") para a Michelle no ano retrasado (lembra Mi?) e do Hermann Hesse eu tenho o "Demian".
    Ainda não li nenhum dos dois, e só eu sei o que estou perdendo! rsrs

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  2. Wow!!! este livro já está na minha wishlist há um bom tempo. Recebi a indicação do Fábio Michelete (o link do blog dele está aí no blog). Vou passar no sebo hoje mesmo! :)
    Ah! A resenha está muito legal Anna! Parabéns!!!

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  3. Ótima resenha, Anna!

    Eni, eu li esse livro logo que vc me deu, mas não bateu uma identificação imediata. Claro que adorei, mas acho que aquele não era o momento de lê-lo. É obrigação minha relê-lo!

    Beijos!

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  4. Eu planejava ler Herman Hesse há anos, faz uns 6 meses que comecei (tenho essa mania de pegar um escritor e ler tudo ou quase tudo dele numa tacada só). Comecei com Damian, o precursor do Lobo da Estepe e fui longe. Me apaixonei perdidamente.

    Absolutamente necessário! Magnífico!

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  5. O Lobo da estepe é um livro incrível, foi o primeiro de Hesse e o que me fez continuar indo atrás do autor. Apesar de ele ser especial por ter sido um divisor de águas das minhas leituras, "Demian" e "SIddartha" me pareceram melhores narrativas que O Lobo da Estepe.

    Boa resenha, abraço!

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